sábado, setembro 30, 2017

Monopólio brasileiro do nióbio gera cobiça mundial,e controvérsia...


O Brasil tem quase toda a revesa do mundo do mineral mais importante do mundo para a industria aéreo espacial, Trata-se do nióbio, elemento químico usado como liga na produção de aços especiais e um dos metais mais resistentes à corrosão e a temperaturas extremas. Quando adicionado na proporção de gramas por tonelada de aço, confere maior tenacidade e leveza. O nióbio é atualmente empregado em automóveis, turbinas de avião, gasodutos, em tomógrafos de ressonância magnética, na indústria aeroespacial, bélica e nuclear, além de outras inúmeras aplicações como lentes óticas, lâmpadas de alta intensidade, bens eletrônicos e até piercings.

sexta-feira, setembro 29, 2017

Cientistas brasileiros usam canto e DNA para identificar nova perereca no Cerrado
Paula Adamo Idoeta - @paulaidoetaDa BBC Brasil em São Paulo
28 setembro 2017
Pithecopus araguaius foi identificada no Mato Grosso por pesquisa de campo que começou em 2010 (Foto: Divulgação)
Cientistas brasileiros anunciaram a descoberta de uma nova espécie de anfíbio no Cerrado, o que evidencia, segundo eles, o potencial ainda inexplorado (e ameaçado) desse bioma no Centro-Oeste do Brasil.
A perereca Pithecopus araguaius foi primeiro avistada pelos pesquisadores - ligados às universidades Unicamp, em São Paulo, e Federal de Uberlândia (UFU), em Minas Gerais - em estudos de campo em 2010.
Desde então, foi possível confirmar que se tratava de uma nova espécie graças a extensos estudos de DNA e análises morfológicas (da aparência do animal), além de dados acústicos dos sons emitidos pelo anfíbio, distintos dos emitidos até mesmo por pererecas do mesmo gênero Pithecopus.
"O canto serve para que a fêmea reconheça o macho da mesma espécie. Isso nos ajudou a diagnosticar que era (uma espécie) diferente das espécies irmãs", explica à BBC Brasil o taxonomista Felipe Andrade, um dos autores da pesquisa - recém-publicada no periódico científico Plos One - ao lado de Isabelle Aquemi Haga, Daniel Pacheco Bruschi, Shirlei Recco-Pimentel e Ariovaldo Giaretta.
Além disso, os pesquisadores notaram que a araguaius tem a cabeça e o corpo de tamanho um pouco menor que suas irmãs do gênero Pithecopus e um padrão diferente (que os cientistas chamam de não reticulado) de manchas no corpo.
Há, agora, 11 tipos de Pithecopus documentados, sendo o araguaius o mais novo deles. Algumas pererecas desse gênero preferem altitudes mais elevadas, o que também as diferencia da araguaius, que habita terras baixas.
"O reconhecimento da Pithecopus araguaius é importante para o conhecimento da riqueza de anfíbios e diversificação de padrões nessa região", diz trecho do artigo publicado no site da Plos One.


Perereca recém-descoberta se diferencia de suas irmãs por tamanho menor da cabeça e do corpo e diferenças no padrão de manchas; acima, registro dos cientistas dela vista de cima e de baixo (Foto: Divulgação)
Bioma a ser conhecido
araguaius foi descoberta na cidade de Pontal do Araguaia, no Mato Grosso, à beira do rio Araguaia - daí seu nome. Posteriormente, os cientistas documentaram a existência da nova espécie também na Chapada dos Guimarães e na cidade mato-grossense de Santa Terezinha.
"A descoberta mostra que em 2017 ainda temos espécies a serem descritas no Cerrado, uma região com alto índice de biodiversidade e sob forte impacto da ação humana", afirma Andrade.
Seu orientador, Ariovaldo Giaretta, acrescenta à BBC Brasil que o fato de essa região do Brasil estar sob pressão - sobretudo pela expansão do agronegócio - pode colocar em risco eventuais descobertas de outras espécies.
"Por acaso achamos essa nova espécie. Quantas outras podem existir? E não temos ideia de o que está sendo perdido nas áreas (de Cerrado) que estão sumindo", diz Giaretta. "Se novos vertebrados ainda estão aparecendo (nas pesquisas), pode haver outras criaturas vivas - invertebrados, plantas. (...) É estarrecedor que (muitas áreas) estejam virando pasto para boi."
No estudo, os pesquisadores citam o Cerrado como "um dos mais ameaçados hotspots da Terra, sobretudo pela perda de hábitats por conta do desenvolvimento urbano e agrícola".
E a própria araguaius pode estar sob perigo de extinção, por ser uma perereca que habita áreas baixas e, portanto, de interesse do agronegócio.
"Ainda precisamos de muitos esforços para conhecer nossa biodiversidade do Cerrado e mais ainda da Amazônia", opina Andrade.

segunda-feira, setembro 11, 2017

Como doença de menina causou comoção e mudou a forma de país criar porcos                                             DA BBC BRASIL 11/09/2017  12h44
     Menina contraiu superbactéria dos porcos da fazenda em que vivia 
Fazendeiros ao redor do mundo estão dando antibióticos para animais em grande escala para mantê-los saudáveis e reduzir o preço de carnes, mas isso ajudou a criar uma grave crise de saúde pública.
Uso excessivo desses medicamentos na criação de animais como porcos e galinhas permite que bactérias desenvolvam resistência. Há três anos, por exemplo, foi descoberto que bactérias em porcos na China já resistiam ao potente antibiótico colistina.
Mas um país decidiu mudar drasticamente e ir contra essa tendência –tudo por causa de uma menina chamada Eveline.
Em 2003, a filha do fazendeiro holandês Eric van den Heuval, então com um ano de idade, foi levada ao hospital às pressas para uma cirurgia cardíaca.
Ela havia nascido com um problema congênito. Se não fosse operada, poderia morrer.
"Fomos ao hospital, mas o médico disse: 'O teste dela foi positivo para [a bactéria] MRSA [também conhecida pela sigla SARM, para Staphylococcus aureus resistente à meticilina]. Ela não pode ser operada'", diz Eric.
Para surpresa de Eric, Eveline havia contraído uma superbactéria dos porcos de sua fazenda –uma variante que pode ser transmitida no contato com animais contaminados e foi encontrada também em criadores de porcos na Dinamarca e na Alemanha.
"Aquele momento mudou totalmente a vida da minha família", afirma Eric.
Por causa de Eveline, Eric decidiu mudar a forma como cuidava da fazenda.
A história de sua filha levou outros fazendeiros a mudar suas práticas também.
"Quando você ouve sobre Eric e sua filha e como isso tudo está nos matando, você é compelido a fazer algo a respeito", diz o fazendeiro Gebert Oosterlaken, que também cria porcos.
Ele e Eric formaram um grupo para reunir outros fazendeiros e veterinários para debater o problema e buscar soluções.
Eles passaram a cuidar dos porcos sem antibióticos, usando bactérias probióticas para combater micro-organismos prejudiciais à saúde dos animais e mantendo-os separados em zonas higienizadas para impedir a proliferação de doenças.
"Hoje, você percebe pela aparência deles, seu brilho, seus olhos, que eles estão mais saudáveis. Assim, eles morrem menos, minha produtividade aumenta e é mais fácil criá-los", diz Gebert.
O governo holandês agora divulga as técnicas desenvolvidas por Eric, Gebert e seus colegas, e diz que o uso de antibióticos em animais caiu 65%.
"É claro que sentimos orgulho do que atingimos dentro de nosso pequeno grupo, mas, na realidade, conseguimos criar um movimento que mudou a criação de animais na Holanda", afirma Gebert.
O especialista em antibióticos Jaap Wagenaar diz que Gebert e Eric foram muito importantes nessa mudança por terem sido os primeiros a adotar formas de reduzir o uso desses medicamentos nas suas fazendas.
"Eles atuam como embaixadores. Mostram aos seus colegas quais opções eles têm."
E como está a filha e Eric hoje?
"Hoje, ela tem 16 anos", diz Eric ao lado de Eveline em sua fazenda. "É muito saudável –e está livre da superbactéria."   

sexta-feira, setembro 01, 2017

Queimadas ajudam a preservar diversidade de espécies no cerrado

REINALDO JOSÉ LOPES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA                                                                                        
01/09/2017  02h01

Cerrado, que tem sua biodiversidade beneficiada quando há queimadas controladas
O único jeito de preservar a diversidade de espécies do cerrado, um dos biomas mais ricos e ameaçados do Brasil, é queimá-lo de vez em quando.
Sem a presença intermitente do fogo, as plantas típicas desse ambiente correm o risco de sumir, dando lugar a uma formação florestal relativamente empobrecida, revela um estudo feito no interior paulista.
De modo geral, as áreas de cerrado do município de Águas de Santa Bárbara (SP) que passaram três décadas sem serem tocadas pelas chamas devem ter perdido 27% de suas espécies vegetais e 35% de suas espécies de formigas (grupo muito diversificado, que serve como indicador da biodiversidade animal da região como um todo).
Se a conta incluir somente os "especialistas" em cerrado, que vivem apenas nesse bioma, o cenário fica ainda mais desanimador: perda de 67% das plantas e 86% das formigas.
"A gente acabou de apresentar os resultados num congresso sobre restauração florestal, e todo mundo ficou espantado", contou à Folha a pesquisadora Giselda Durigan, do Instituto Florestal (órgão do governo do Estado).
Giselda e seus colegas (de instituições como Unesp, Unicamp, Universidade Federal de Uberlândia e Universidade da Carolina do Norte) também estão publicando os dados na edição desta semana da revista especializada "Science Advances".
Em alguma medida, o problema detectado pela equipe seria esperado, visto que os vários tipos de vegetação que perfazem o cerrado parecem ter evoluído para se adaptar à ação dos incêndios naturais, provocados pela longa estação seca que caracteriza o bioma.
De fato, diversas plantas desse ambiente precisam até de uma mãozinha do fogo para que suas sementes germinem. Outras, como os arbustos e as gramíneas, não conseguem crescer em áreas de vegetação mais fechada, e a queima periódica ajuda a manter o terreno livre para que prosperem.
NA PRÁTICA
Nas circunstâncias atuais, no entanto, as áreas que são reservas naturais tendem a adotar uma política restritiva de controle de incêndios, ao passo que os trechos de cerrado nas mãos de proprietários rurais, além de já muito degradadas e fragmentadas, não queimam como antigamente.
Giselda e seus colegas usaram dois métodos para medir o impacto dessa transformação. Primeiro, estudaram a diversidade de espécies de plantas e formigas em 30 trechos diferentes de cerrado da Estação Ecológica de Santa Bárbara.
Incluíram na análise tanto áreas em que o cerrado é naturalmente mais fechado, com presença razoável de árvores, quanto as que têm predomínio de campos mais abertos –e, o que é crucial, os trechos onde formações florestais surgiram faz pouco tempo, nas últimas décadas.
A medição da diversidade de espécies atual foi comparada com imagens de satélite que ajudam a contar como era a região há 30 anos e como ela está hoje.
É isso o que ajuda os pesquisadores a saber qual seria a distribuição de espécies típica do cerrado "natural" e, portanto, o quanto se perdeu com o aparecimento das novas matas. "Em geral, essas áreas florestais novas são formadas por espécies muito generalistas. Em inglês, o pessoal usa até o termo 'tramp species' [espécies vagabundas]", conta a pesquisadora.
Nas condições atuais, explica Giselda, deixar que os incêndios naturais façam a diversidade de espécies do cerrado voltar ao normal não seria uma boa ideia por causa da fragmentação do ambiente, que poderia perder suas poucas áreas remanescentes se não houver controle.
O ideal seria o manejo ativo do fogo nessas áreas. "Temos um conhecimento tradicional que poderia ser empregado para ajudar nisso, como o do manejo de pastos, dos próprios canaviais, e o utilizado pelas populações indígenas há séculos."
        FOGO DO BEM
O cerrado sofre queimas espontâneas, que o renovam
O cerrado é um bioma que combina áreas com mais espécies de árvores e vastos trechos de vegetação aberta, com biodiversidade única que depende da forte presença da luz solar e de incêndios naturais periódicos para que suas sementes germinem
VIROU FLORESTA
O manejo das reservas naturais do cerrado hoje, bem como alterações trazidas pela expansão agropecuária, tem impedido esses incêndios naturais. Numa área de cerrado do interior de SP, essa mudança fez com que áreas naturalmente abertas virassem floresta nos últimos 30 anos
A agropecuária impede esse fenômeno natural
MENOS ESPÉCIES
O resultado foi uma diminuição de cerca de 30% na diversidade de espécies de plantas e de formigas dessas áreas -provavelmente porque espécies únicas do cerrado já não conseguiam se estabelecer
Após os incêndios, há um aumento da biodiversidade
COM CUIDADO
Para reverter essa perda, o recomendável é fazer a queima controlada dessas áreas abertas do bioma 


      

terça-feira, agosto 22, 2017

O GRANDE BAGRE EM APUROS
Ameaçado por pesca predatória e hidrelétricas na Amazônia, o peixe que empreende a mais longa migração do mundo pode desaparecer
POR GUSTAVO FALEIROS

10 DE AGOSTO DE 2017 12:29
O ano de 2007 tinha tudo para trazer a redenção ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os abalos do Mensalão haviam arranhado sua reputação, mas não tiveram força para apeá-lo do poder: Lula fora reeleito no ano anterior, no empuxo de um PIB com crescimento de 4%, às vésperas de um cenário que já soprava os ventos da crise que se abateria sobre o mundo. Em fins de janeiro, Lula anunciou o Plano de Aceleração do Crescimento, com promessa de investir meio trilhão de reais em infraestrutura, a ponta de lança do novo mandato.
Mas – e o presidente não podia imaginar – haveria um peixe em seu caminho. Em março, um parecer elaborado por técnicos do Ibama sugeria o veto à construção de duas hidrelétricas no rio Madeira, obras-chave para a visão de Brasil grande que rondava os círculos petistas. As usinas Santo Antônio e Jirau, insistia o Ibama, seriam fatais para a dourada, um grande bagre que habita quase toda a bacia Amazônica e protagoniza a maior migração do mundo: de 8 mil a 11 mil quilômetros durante toda a vida. As barreiras de concreto projetadas para as usinas impediriam o peixe de seguir seu curso. Incomodado com o relatório do órgão ambiental, Lula contra-atacou numa reunião com seu conselho político: “Agora jogaram o bagre no colo do presidente.”
Passados dez anos – usinas construídas e propinas denunciadas pela Lava Jato –, o peixe segue sendo fonte de preocupação. Além das hidrelétricas nos afluentes do Amazonas, também a sobrepesca – pela quase total ausência de fiscalização –, está fazendo com que a Brachyplatystoma rousseauxii se torne artigo raro onde antes abundava.
Pesquisadores que investigam a situação da dourada falam em um iminente colapso do estoque do peixe, e propõem uma ação radical – a proibição temporária de pesca e o veto total à construção de usinas na Amazônia andina, onde os países vizinhos planejam novas obras. Atualmente, não existe qualquer controle para a captura da dourada, e os planos hidrelétricos avançam.
O grande bagre migrador da Amazônia é um recordista. Enquanto jovem, ele nada dos Andes à foz do Amazonas. Depois, retorna na maturidade para reproduzir e desovar nas cabeceiras do grande rio. Sua viagem é maior que a do salmão, peixe que acreditava-se empreender a maior jornada da natureza.
Neste trajeto, a espécie sustenta milhares de pescadores do Brasil, da Bolívia, da Colômbia e do Peru. Sua captura está relacionada a um mercado milionário de exportação de peixes sem escamas, ou peixes-lisos, como dizem os amazônidas.
O rio Madeira, formado por dois grandes afluentes – o Mamoré, que faz fronteira com a Bolívia, e o Madre de Dios, que vem do Peru –, é uma das principais rotas de subida da dourada e outros grandes bagres migradores em direção aos locais de desova. Hoje, os pesquisadores que acompanham os impactos da construção de Santo Antônio e Jirau, as duas usinas brasileiras, sabem que as douradas adultas não estão conseguindo transpor as barragens.
Rosseval Leite, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), fez experimentos que comprovam que os jovens conseguem passar pelas turbinas. Mas os adultos, não. “O panorama no rio Madeira é sombrio. Se não encontrarem um forma para a subida dos adultos, em poucos anos, naquele rio em que se construiu a hidrelétrica, há a possibilidade de os bagres não chegarem nas cabeceiras”, disse em seu escritório em Manaus, em meio a quadros e livros sobre as principais espécies de peixe da Amazônia. “Se isso de fato ocorrer, não haverá a reposição da população.”
Durante uma viagem de sessenta dias, do Peru ao Brasil, passando por portos pesqueiros, mercados, feiras de rua e frigoríficos, ouvi reclamações de que o tamanho e a quantidade das douradas (ou zungaro dorado para os peruanos) já não são os mesmos de anos atrás.
Em Tabatinga, Augusto da Costa Araújo, filho de pai colombiano e mãe brasileira, falou sobre os bagres. Ele está no comércio de peixe liso há vinte anos, na tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia – compra o peixe no lado peruano para comercializar nas bodegas colombianas, como são chamados os frigoríficos de peixe na cidade de Leticia.
Na alta temporada, quando começam as migrações da dourada e outros bagres, ele transporta entre cinco a sete toneladas de peixe para a Colômbia. No dia em que o encontrei, ele estava supervisionando a chegada de uma carga em um barco peruano.
Embaixo de uma tremenda chuva, Araújo acompanhava a retirada de uma tonelada de bagres de um grande caixote de madeira lotado de gelo. A maior parte da carga era de piraíbas, um bagre gigante que pode chegar a 3,6 metros de comprimento. Mas havia também pelo menos 80 quilos de douradas que não passavam de um metro, algo incomum anos atrás, quando as capturas se aproximavam de seu tamanho médio, 1,5 metros.
“Antigamente tinha muito mais peixe. O governo colombiano está até fazendo campanha para que não se compre peixe pequeno, mas o trabalho nesta Amazônia é difícil”, disse ele enquanto apontava para os bagres. “Se o pescador pega peixinho, ele vende. Se não é na bodega, é no mercado”, pontuou, com um sotaque misturado de português com espanhol.
Na parte brasileira não é diferente. Quase todo bagre pescado no rio Solimões é vendido diretamente para os frigoríficos que, depois, os enviam à Colômbia. Todos os municípios na calha do rio têm uma economia altamente conectada com a forte indústria de Leticia. José Maria Miller Nascimento, é um empresário conhecido de Santo Antônio do Içá, cidade brasileira que está a 200 quilômetros da fronteira. Agitado, sempre distribuindo ordens aos empregados, ele foi um pioneiro na instalação de um frigorífico nesta parte do Solimões.
Durante o período da piracema, Nascimento chega a comprar trinta toneladas de bagres dos pescadores locais. Armazena tudo nas câmaras frias de seu comércio flutuante, que tem capacidade para até setenta toneladas. Em uma visita ao seu frigorífico, ele me contou que, agora, a compra está concentrada em outros tipos de bagre. “A dourada já foi um bom negócio há dez anos. Hoje o que está dando muito é surubim, o pintado.”

Opescador Izaías Freitas dos Santos preside uma associação com 800 pescadores em Santo Antônio do Içá. Ele fala de um tempo em que a pescaria ainda valia a pena. “Tinha um momento que tinha muito peixe mesmo, hoje só ficou a lembrança.” Em uma manhã de julho, saímos para pescar acompanhados de seu sogro, Raimundo Souza dos Reis, um homem de 54 anos que passou a vida nas águas amazônicas. Fomos conferir as poitas (linhas com vários anzóis armados) e as malhadeiras (redes de pesca) deixadas por eles em áreas alagadas e próximas às margens dos paranás, os rios que correm nas laterais dos de maior porte, neste caso, o Solimões.
Eles não partem mais em busca da dourada. A esperança era achar pirarucu, talvez um surubim ou caparari. Mas a pescaria não foi bem-sucedida e só encontramos uma pirapitinga, um tipo de peixe mais comum e menos valorizado. Reis conta saudoso do tempo em que as douradas se prendiam na poita. Os inimigos da dupla de pescadores artesanais são muito mais presentes do que as grandes usinas hidrelétricas – hoje, com os barcos que realizam a pesca de arrasto, puxando redes no fundo do rio como se fossem enormes vassouras, é quase impossível que um pequeno pescador como eles, em uma canoa, consiga ver um grande bagre. “Não sobra nada”, disse Reis. “O arrasto leva tudo.”
Quase um mês depois da desolada pescaria com Izaías e Raimundo em Santo Antônio do Içá, em uma conversa no Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém, as razões pela escassez de peixes ficaram claras. “A dourada é pressionada na Amazônia inteira. E o pior problema é no estuário, onde se concentra essa pesca industrial”, afirmou Ronaldo Barthem, biólogo marinho e pesquisador que há pelo menos vinte 20 anos é uma das principais referências em grandes bagres da Amazônia. Ele começou a investigar a pesca amazônica em 1978, quando mudou-se do Rio de Janeiro para Manaus para trabalhar no Inpa. Depois, quando transferiu-se para Belém, nos anos 80, passou a pesquisar especificamente a captura dos bagres no estuário.
Desde a década de 90, Barthem e seus colegas já alertavam para a necessidade de regular a pesca de arrasto, onde dois barcos navegam em paralelo puxando redes de até 50 metros de largura por 40 de altura. “Eles realmente limpam o fundo e pegam bastante peixe jovem.”
Desta forma, ele explicou, os peixes estão sendo impedidos de crescer. O resultado é que cada vez menos adultos são encontrados no Alto Amazonas. Ali, estariam com tamanho entre 90 e 110 centímetros, e prontos para subir em direção às cabeceiras para reproduzir. Junta-se isso ao impacto das hidrelétricas e pode-se dizer que o futuro da pesca da dourada não parece promissor.
O velho problema juntou-se a um novo: Barthem acompanha diretamente os estudos sobre o impacto das usinas do rio Madeira. “Estamos lá juntando os dados e vendo o que acontece. Ainda tenho esperança que a dourada vai passar pelas usinas. Mas, até agora, nenhum peixe conseguiu.” Por isso novas usinas são o principal temor do pesquisador, principalmente as planejadas na Amazônia andina.
Os impactos das atividades no estuário do Amazonas são sentidos a vários quilômetros de distância. Em Nauta, onde os rios Marañón e Ucayali se unem para formar o rio Amazonas do lado peruano, a 400 quilômetros da fronteira com o Brasil, José Paredes, de 74 anos, trabalha há cinquenta como vendedor de filés de bagre no mercado municipal. “Em 1969 havia douradas para dar e vender. Isso durou até 1984, e aí começou a diminuir com o arrasto. Agora vem um, dois ao mês. Às vezes, nada”, afirmou.
O casal Meneleo Hualinga e Rosa Altilla desperta todo dia de madrugada desde os tempos em que juntos atuavam na pescaria. Por trinta e cinco anos ele pescou e ela limpou os bagres do Marañón. Há oito, trabalham no mercado de Nauta como vendedores. Trocar o rio pela terra firme virou melhor negócio. “O preço segue se elevando cada dia mais e mais. Se você trouxesse um como esse (aponta para um peixe de 40 centímetros), ninguém queria comprar porque era pequeno, porque havia alguns grandes. Mas agora até os recém-nascidos eles trazem”, disse o antigo pescador.
A opinião dos pescadores e comerciantes locais não destoa dos dados apresentados nos últimos anos em artigos científicos na Colômbia e no Peru. O desembarque de bagres foi reduzido em Iquitos e Leticia, dois dos principais portos pesqueiros do Alto Amazonas. No Brasil, no entanto, não existem dados sobre a atividade, nem mesmo no estuário onde a pesca é intensa.
Os dados de desembarque mais recentes foram publicados em 2012 na revista Folia Amazónica, por um grupo de cientistas colombianos liderados pela pesquisadora Aurea García, do Instituto de Investigaciones de la Amazonía Peruana (IIAP). Entre 2008 a 2012, a dourada representou apenas 0,04% de todos os peixes que chegavam aos portos pesqueiros de Iquitos, uma cidade de 437 mil habitantes no coração da selva.
“As espécies pequenas de bagre já estão substituindo as espécies grandes, como a dourada e a piraíba, ou mesmo o surubim e o caparari”, explicou García, em entrevista em uma das unidades do IIAP em Iquitos.
Segundo ela, a piracatinga (ou mota, em espanhol) se tornou a mais conhecida entre as pequenas que passaram a ocupar o mercado. Mas outras, que não eram sequer consumidas, já aparecem nos registros pesqueiros. Viraram mercadoria pela escassez dos grandes bagres.

Leticia é o epicentro da indústria de compra, processamento e exportação de grandes bagres. A forte demanda, iniciada no fim dos anos 60, criou uma zona de pesca de 2 000 de rio quilômetros que se estende de Iquitos até, pelo menos, Tefé, no Amazonas.
Barcos pesqueiros, frigoríficos e pescadores artesanais se dedicam à captura do peixe-liso para vender em Leticia, onde toneladas são preparadas para o envio à capital Bogotá e a outros países. A vantagem de Leticia é estar conectada diretamente, via aérea, com a maior cidade da Colômbia, região onde vive a parcela mais rica da população do país.
Os bagres da bacia do Magdalena, rio no norte do país e constante cenário das novelas do escritor Gabriel García Márquez, eram muito apreciados pelos colombianos. Mas depois de explorados à exaustão, praticamente sumiram, deixaram um mercado aberto para os seus primos amazônicos de maior porte.
O primeiro pescado a sair da Amazônia para Bogotá, ainda nos anos 60, foi o pirarucu, que, salgado, era consumido durante a Semana Santa. Depois do pirarucu vieram então os do gênero Brachyplatystoma, gênero dos bagres colossais, como a piraíba (Brachyplatystoma filamentosum), e a dourada (Brachyplatystoma rousseauxii), cujo recorde de tamanho registrado é de 1,92 metro.
Inicialmente, a carne destes peixes foi preservada em mantas salgadas, mas a partir, dos anos 80, vários frigoríficos se instalaram na região permitindo a exportação de peixe congelado.
Curiosamente, a cadeia produtiva dos bagres também cresceu devido às peculiaridades da cultura do ribeirinho do Alto Amazonas e do Solimões. Por ali, nunca se come a carne do peixe-liso, prefere-se o peixe de escamas, como o jaraqui, o tambaqui ou a pirapitinga.
Alguns relacionam esta preferência ao gosto da carne dos bagres, forte, ou remosa, como se diz na Amazônia. Causaria até doenças, acreditava a população local. Mas há quem enxergue nessa preferência apenas uma razão socioeconômica. Como o bagre rende deliciosos filés sem espinhas, passou a ser aproveitado pelos ricos, pelos consumidores das cidades, tornando ao ribeirinho vantajosa a venda, e não o consumo próprio.
O colombiano Edwin Agudelo é um dos principais pesquisadores do comportamento migratório da dourada e também sobre os altos e baixos da indústria pesqueira da Amazônia. Coordenador do Instituto Amazónico de Investigaciones Cientificas em Leticia, ele defende medidas mais duras para conter a diminuição da dourada. “Em termos da biologia destes peixes, nós os estamos levando ao colapso”, disse, em tom grave.
Segundo Agudelo, o auge da pesca da dourada ocorreu ainda nos anos 90. Em 1998, como mostram dados de desembarque em Leticia, 12 mil toneladas dos peixes-lisos foram comercializados no porto, sendo que 40% do gênero era justamente de Brachyplatystoma.
A partir deste momento, a captura de bagres foi caindo. Em 2005, já havia se reduzido a 7,5 mil toneladas. Alguns anos depois, em 2010, quando os últimos dados foram coletados, a produção foi de 6,8 mil toneladas – quase a metade em pouco mais de uma década.
Agudelo prevê que em 2030 a indústria de Leticia estará reduzida a um quarto de seu apogeu dos anos 90. Em uma simulação de rendimento pesqueiro realizada para a área por meio do software Ecopath, ele e parceiros de pesquisa chegaram a um futuro de apenas 3,5 mil toneladas anuais, já sem a presença da dourada.
Para evitar este cenário, ele propõe um primeiro ensaio de defeso, ou seja, de restrições à pesca, algo que jamais existiu. Isso ocorreria de acordo com o pulso de inundação do rio Amazonas, pois é no momento da mudança no nível da água que a dourada começa a migrar rio acima.
Assim, durante a movimentação dos cardumes juvenis na parte brasileira, haveria cotas de captura para garantir que os peixes possam seguir crescendo e cheguem ao Peru e à Colômbia, onde atingem a maturidade e se reproduzem.
“Se isso não funcionar, o que deveríamos fazer no caso da dourada e da piraíba é acabar com a pesca, proibir. Mas para fazer isso teríamos que levantar, num prazo curto, o impacto econômico desta medida, pois não existem dados sobre quem depende desses peixes”, ressaltou o pesquisador colombiano.

No início dos anos 2000, o Brasil regulou a pesca de piramutaba, um tipo de peixe cujos cardumes estavam sendo exauridos pela pesca industrial. A medida teve um impacto bastante positivo que foi além das fronteiras. A quantidade de desembarques da espécie voltou a subir nos portos de Iquitos entre 2008 e 2012, segundo a pesquisa do IIAP.
Mas a questão da dourada é mais delicada. É preciso que os governos dos três países trabalhem juntos na gestão dos recursos pesqueiros, já que a espécie é pescada em todo o rio. “É um tema de soberania, seria preciso envolver as chancelarias”, disse Agudelo.
O primeiro encontro internacional sobre os bagres migratórios aconteceu ainda em 1995, com apoio da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Mas o tema parece ter interessado somente aos pesquisadores e técnicos. Nada foi feito até agora, 22 anos depois do encontro.
Michael Goulding, colega de trabalho de Barthem no Museu Paraense Emílio Goeldi, publicou junto ao brasileiro, em 1997, o livro Os Bagres Balizadores, que foi a primeira obra a lançar a hipótese de que algumas espécies de peixes-gato da Amazônia realizavam migrações de longa distância, em especial duas do gênero Brachyplatystoma, a dourada e a piramutaba.
Junto aos estudos do ciclo de vida, a publicação foi ousada em propor uma visão integrada no gerenciamento da bacia Amazônica levando em conta a migração dos peixes. Tanto que em inglês, o livro editado pela Universidade Columbia, ganhou o sugestivo título de The Catfish Connection, indicando que os bagres eram “viajantes sem fronteira”, o que deveria ser levado em conta em projetos de infraestrutura, em especial as hidrelétricas.
Barthem conta que recebeu muitas críticas – colegas disseram que os então jovens pesquisadores não tinham uma visão global sobre o problema. “Muita gente achou que a hipótese não era válida pois havia meia dúzia de dados. Mas os dados eram muito claros, eram gritantes”, conta. As evidências tinham sido coletadas em diversas viagens de barco de pesca que saíam do estuário, acompanhando a migração. “Eu comecei no estuário e fui parar no Peru.”
Anos de pesquisa sobre os grandes migradores permitiram que Barthem, Goulding e colegas do Inpa, em especial Rosseval Leite, publicassem um artigo seminal em fevereiro deste ano na revista Nature. Foi nele que os pesquisadores cravaram a teoria de que a dourada é o maior peixe migrador do planeta, tomando o posto do salmão.
O estudo se baseia em observações feitas desde os anos 80 sobre a disponibilidade e o estágio de maturação da dourada e outros 3 grandes bagres em diversos pontos da bacia Amazônica. Exemplares maduros foram encontrados nas proximidades de Machu Picchu, no rio Urubamba, a 5 788 quilômetros da foz do Amazonas.
Ao mesmo tempo, foram feitas medições das larvas da dourada conforme elas iam descendo o rio. Assim, viram que o indivíduo pequenino, com menos de 10 centímetros, só existe no estuário. Por outro lado, nesta mesma área, nunca se encontram douradas com as gônadas cheias de ovos. Essas só mesmo nas cabeceiras. Isso evidenciava a importância da migração que a pesca de arrasto e as hidrelétricas estão impedindo.
A esperança, agora, é manter as áreas rio acima preservadas, já que ao menos os peixes que chegaram nas cabeceiras antes da construção das grandes obras continuam se reproduzindo. Para Barthem, o que vai garantir a sobrevivência da dourada é unir manejo da pesca com a conservação de seus habitats. “Eu acho que em termos de extinção de espécie, estamos longe, ainda dá tempo de reverter. Mas em termos de mercado, do jeito que vai, nós estamos comprometendo o nosso bolso.”

sexta-feira, julho 14, 2017

O Programa Córrego Limpo está de volta
Córrego despoluído após o programa Córrego Limpo, da Sabesp
DE SÃO PAULO. 05/06/2017  17h58
Iniciativa já beneficiou 2,2 milhões de pessoas e despoluiu 149 córregos na capital paulista
Desde que o córrego Cruzeiro do Sul, em São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo, foi despoluído, houve melhora na qualidade de vida dos moradores da região. Hoje eles frequentam um parque linear construído à beira do córrego, uma realidade bastante diferente da que eles estavam acostumados antes do Programa Córrego Limpo.
Hoje, os moradores se exercitam, fazem uma pausa em suas rotinas para descansar e assistem suas crianças brincarem em frente a um rio despoluído, em uma área de lazer com muito verde. "Você vê que foi feito um trabalho de revitalização da área. O povo tem mantido limpinho, a população está colaborando. Esse parque linear foi uma benção para a nossa região", comemora Elecy, que enxerga a despoluição do córrego Cruzeiro do Sul como um avanço para a comunidade, oferecendo cidadania para o povo.
O Cruzeiro do Sul é um dos 149 córregos da capital paulista que foram despoluídos pelo programa Córrego Limpo, uma parceria entre a Sabesp, o Governo do Estado e a Prefeitura de São Paulo. O projeto recebeu da Sabesp investimentos de R$ 240 milhões, mostrando-se firme no propósito de zelar pela qualidade da água desses rios, que influem na vida das pessoas e beneficiam toda a Região Metropolitana de São Paulo.
Imagem de antes e depois da recuperação do Córrego Cruzeiro do Sul, em São Miguel Paulista
Desde seu início, em 2007, o programa Córrego Limpo retirou 1.500 litros de esgoto por segundo dos córregos. Este resultado responde diretamente ao objetivo do projeto, de melhorar a qualidade de água dos mananciais, rios e córregos, por meio de adequações no sistema de esgotamento sanitário do entorno dos córregos, trabalhos de manutenção e educação ambiental.
O Córrego Limpo retorna agora com força total e uma grande novidade, a cláusula de obrigatoriedade de adesão ao Programa: Sabesp e Prefeitura assumem um compromisso e lutam pelo objetivo comum de manter ao longo do tempo suas respectivas tarefas, garantindo assim a continuidade do projeto. Esta parceria traz resultados positivos para a população, que será beneficiada com melhorias à qualidade de vida por meio da despoluição dos rios da capital. A cada córrego despoluído, damos mais um passo na despoluição do Tietê.
Dentro do Programa Córrego Limpo, a Sabesp realiza monitoramento dos córregos, executa obras de prolongamento de redes, coletores e ligações de esgoto. A companhia realiza ainda a manutenção e adequação das redes existentes.
Já a Prefeitura de São Paulo é responsável pela limpeza dos córregos, a contenção e manutenção das margens e dos entornos, além da verificação de eventuais interferências na rede de microdrenagem (bocas-de-lobo e galerias). Também age na fiscalização das ligações de esgotos, notificações e multas aos imóveis que não estiverem corretamente ligados à rede coletora e, principalmente, na remoção e reassentamento de pessoas que residem nas faixas dos fundos de vale requeridas à passagem das tubulações de esgotos.
A participação da população é de extrema importância, evitando o lançamento de lixo e entulho, denunciando irregularidades e não fazendo ligações clandestinas.
Resultado que se vê: córregos já recuperados
Antes e depois da recuperação do Córrego Caxingui, na zona oeste de São Paulo pelo programa Córrego Limpo, da Sabesp
Entre os córregos já recuperados está o Mandaqui, na zona norte. As ações foram amplas e ousadas. De início, a Sabesp promoveu a varredura em 440 km de redes coletoras de esgoto para identificar as necessidades de reparo e promover as respectivas melhorias.
A partir desse mapeamento e com um investimento que chegou a expressivos R$ 18 milhões, a Sabesp instalou 10 km de tubulações para coleta de esgoto, inaugurou 455 novas ligações domiciliares e promoveu a limpeza em mais de 40 km de cursos d'água - 7,5 km do próprio Mandaqui e mais 33 km de seus afluentes.
Já no córrego Cruzeiro do Sul, em São Miguel Paulista, zona leste da cidade, vários pontos dos 18 km de toda a rede coletora receberam algum tipo de melhoria. Para a despoluição do córrego, foram instalados não só 3,5 km de rede para coleta de esgoto, como também foram executadas 596 ligações. O investimento realizado pela Sabesp foi de R$ 3,5 milhões. Com isso, mais de 2 km de cursos d'água chegam limpos ao rio Tietê, beneficiando os 35 mil moradores de seu entorno.