terça-feira, outubro 14, 2014

                      Cheia no Pantanal    
                                        Um fenômeno natural, até quando?
                                        Postado em 09 de Outubro de 2014.
Muito antes dos pesquisadores anunciarem a cheia extraordinária deste ano, ribeirinhos do Pantanal já sofriam com seu impacto.
Muito antes dos pesquisadores anunciarem a cheia extraordinária deste ano, ribeirinhos do Pantanal já sofriam com seu impacto, pois em algumas regiões a inundação dos rios foi maior que a de 2011, ano em que os prejuízos socioeconômicos para a população pantaneira e fazendeiros foram significativos.
Em Cáceres, no Mato Grosso, as águas alcançaram níveis superiores ao dos últimos três anos, assim como na confluência dos rios Paraguai e São Lourenço, no Mato Grosso do Sul, onde em maio, foi registrada a marca de 6,30 metros, sete centímetros a mais que o pico da última grande cheia na região, que foi de 6,23.
Através da análise de dados sobre a situação dos rios nas cabeceiras, das chuvas que caiam na região norte do Pantanal e também das situações relatadas por moradores das comunidades que vivem na região, técnicos da ONG Ecoa já previam que ocorreria uma inundação anormal.
A partir deste diagnóstico, em fevereiro foi iniciado um trabalho preventivo junto das comunidades, com o objetivo de minimizar os efeitos de uma cheia atípica. Porém, não foi suficiente para a proteção dos grupos de maneira integral, pois os sistemas de alertas para estes eventos climáticos extremos ainda são insuficientes.
De acordo com Edna Da Silva Amorim, moradora da Barra do São Lourenço, comunidade que foi assolada com a cheia de 2011, muitos moradores, apesar de as águas já terem baixado, ainda estão sofrendo com os impactos da cheia deste ano.
“Quando veio a cheia eu ainda ‘tava’ construindo minha casa, nem tinha terminado e veio a cheia e a gente teve que ficar aqui no ‘tablado’ e os outros foram lá para o aterro, agora eu  estou reconstruindo minha casa em uma região mais alta né?,” disse a moradora com receio de que sua casa seja invadida pelas águas novamente.
Os locais mais altos da comunidade são as melhores alternativas durante o período de enchente, o principal deles é o aterro do Socorro, um direito que só foi conquistado após 20 anos da expulsão da comunidade para a criação de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN).
André Luiz Siqueira, Diretor Presidente da Ecoa, explica que o direito da comunidade de uso dessa região, foi graças a um processo para a identificação de terra da União em propriedade antes considerada privada, mas que através de um georreferenciamento de precisão, feito pela Secretaria do Patrimônio da União (SPU), a pedido do Ministério Público Federal (MPF), concluiu-se que área em questão se trata de “ilha em faixa de fronteira”, o que, segundo a Constituição, é terra pública. 
“Com este reconhecimento a Associação da Comunidade recebeu um Termo de Autorização de Uso Sustentável Coletivo (TAUS Coletivo), que permite que os ribeirinhos usem – de modo consciente e de acordo com a legislação ambiental – os recursos naturais da área, conhecida pelos moradores como Aterro do Socorro, além é claro de poderem se se abrigar no local durante o período de cheia, esta é uma das maiores conquistas para aquelas populações,” ressalta André.
                                 Vazão lenta
Muito antes dos pesquisadores anunciarem a cheia extraordinária deste ano, ribeirinhos do Pantanal já sofriam com seu impacto
Para os pesquisadores e também para os ribeirinhos, está foi uma cheia muito diferente das que foram registradas em anos anteriores, além do alto nível dos rios em algumas regiões, a inundação da planície este ano surpreendeu também pelo tempo de duração.
De acordo com Vanessa Spacki, uma das pesquisadoras envolvidas no “Plano de Prevenção, Mitigação e Adaptação a Impactos de Eventos Climáticos Extremos no Pantanal”, está cheia chegou com atraso e teve a duração maior, ou seja, uma enchente lenta e longa.
“Durante a execução do projeto (Mapeamento de eventos climáticos extremos no Pantanal, análise de seus efeitos sobre populações vulneráveis, capacitação local e elaboração de propostas mitigatórias) pela Ecoa, realizamos um levantamento sobre as cheias dos últimos seis anos e em nenhuma região houve uma cheia desta proporção,” explica a pesquisadora, Mestre em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável.
O Pantanal possui um sistema hidrológico complexo – regido por ciclos de enchentes, cheias vazantes e secas –, mas esta complexidade se agrava atualmente. De acordo com o registro dos níveis do Rio Paraguai e seus tributários, a planície continua inundada em um período em que a vazão já deveria ter ocorrido.
Segundo os dados do Serviço de Sinalização Náutica do Oeste, que acompanha o nível dos rios Paraguai e Cuiabá, no início de setembro a régua de Bela Vista do Norte – localizada no extremo norte de Mato Grosso do Sul, quase na divisa com Mato Grosso – registrou 4,86 metros contra 4,04 metros do mesmo período no ano de 2011.
Se analisado os dados do nível do pico da cheia do rio Paraguai na região – que ocorreu no dia 13 de junho –, quando foi registrado o nível de 6,30 metros e no dia 01 de setembro a altura da régua marcava 4,86, houve uma vazão de apenas 1,44 metros em 111 dias.
A lenta vazão se manifesta mais claramente na sub-região pantaneira do Nabileque que além do rio Paraguai, absorve também a água dos afluentes: Miranda, Aquidauana, Taquari, Negro e Abobral.
Porto Murtinho, distante 444 quilômetros de Campo Grande (MS), é a última cidade do Pantanal na porção brasileira e lá se encontra a última régua do Serviço de Sinalização Náutica do Oeste, onde o pico foi de 7,16 metros em 19 de junho no dia 24 de setembro, registrou a altura de 6,73 metros; uma vazão de apenas 0,43 centímetros.
Esta situação anormal preocupa moradores e pesquisadores, pois caso a água acumulada na planície se mantenha até o início do período de chuvas, que deve ocorrer a partir do próximo mês, esta situação será ainda mais alarmante.

quinta-feira, outubro 09, 2014

Nascente do rio Uberabinha tem água graças à área de preservação
7 de outubro de 2014 19:34
Segundo Antonius Van Ass., o trabalho de preservação da cabeceira do Uberabinha existe há muito tempo (Foto: Cleiton Borges.
Diferentemente do que aconteceu na nascente principal do rio São Francisco, na Serra da Canastra, que secou, a do rio Uberabinha, que fica em uma fazenda em Uberaba, a 75 km de Uberlândia, tem água e está com uma quantidade compatível com a distribuição de chuvas deste ano, segundo o diretor do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Cláudio di Mauro. Isso se deve ao aumento da Área de Preservação Permanente (APP) na propriedade rural, resultado de um acordo feito há nove anos entre o proprietário da fazenda, Antonius Van Ass, e o Ministério Público Estadual (MPE).

Em relação à quantidade de água da nascente, Di Mauro disse que a quantidade é baixa, está menor do que o ano passado, devido ao período de seca e à falta de cobertura vegetal. O especialista lembrou que, neste ano, a nascente está sendo abastecida apenas pelo lençol freático. “Muitas áreas não têm cobertura vegetal no entorno, por isso, não há infiltração e, consequentemente, não se tem tanta disponibilidade de água.”
Segundo Van Ass, o trabalho de preservação da cabeceira do Uberabinha existe há muito tempo e, há nove anos, um acordo com Ministério Público Estadual ampliou a área de preservação em 200%. “Eu plantava em 95% de toda área e hoje estou com 30% de área de preservação que é de 400 hectares, conforme o acordo”, afirmou.
De acordo com Cláudio di Mauro, o trabalho feito nessa propriedade deveria ser feito na nascente como um todo. “O exemplo do que está sendo feito aqui precisa ser expandido para outras áreas no entorno, nascentes dos afluentes e médio curso do rio Uberabinha, em que os proprietários não têm a mesma preocupação”, disse.
Covoais estão secos e vegetação ressecada
Embora a nascente do rio Uberabinha no município de Uberaba, que fica a 75 km de Uberlândia, esteja em uma situação razoável, os covoais estão secos. Os covoais são pequenos montes de terra na superfície do solo, uma espécie de caixa d’água que acondicionam a água e alimentam os lençóis freáticos dos rios Uberabinha e Claro, de acordo com o diretor do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Cláudio di Mauro.
A situação dos covoais, segundo Di Mauro, também se deve ao período de seca e à falta de cobertura vegetal. Em visita à região da nascente, o diretor mostrou alguns locais em que os covoais estavam secos e a vegetação ressecada. “A água da chuva é armazenada no solo subterrâneo e no solo de subsuperfície e estas áreas de armazenamento alimentam o lençol freático dos rios. Por esse motivo, todas as áreas de covoais precisam ser preservadas.” Di Mauro lembrou que algumas áreas de covoais são destruídas pelos agricultores para fazer plantio.
Extração de argila está suspensa há dois anos
Na fazenda do produtor rural Antonius Van Ass, onde fica a nascente do rio Uberabinha, a extração de argila refratária em uma área de covoais está suspensa há cerca de dois anos devido a um processo na justiça movido pelo produtor contra a Indústria Brasileira de Artigos Refratários (Ibar) pelo encerramento da atividade na propriedade.
Segundo o diretor do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Cláudio di Mauro, para a argila ser extraída, é preciso remover parte da cobertura do solo e drenar a água. Ele disse que o problema ocorre na extração porque a drenagem da água abaixa o nível do lençol freático do rio. “Como agora a extração foi parada não está afetando a nascente dos rios Uberabinha e rio Claro”, afirmou.
Desde 2008, programa cercou 2 mil ha de APPs
A proteção e recuperação das nascentes do rio Uberabinha e ribeirão Bom Jardim têm sido uma das preocupações do Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae) que criou em 2008 o programa Buritis. De acordo com o órgão, desde a criação, o programa cercou mais de 2 mil hectares de APPs e fez o plantio de 140 mil mudas nativas do Cerrado, atendendo a um total de 120 pequenas e médias propriedades rurais.
Segundo o gerente ambiental do Dmae, Leocádio Pereira, os produtores rurais aderem de forma voluntária ao programa. “Entre as ações de proteção estão o cercamento de nascentes, a revegetação de áreas degradadas pela agricultura e pecuária e a construção de curvas de nível, terraços e barraginhas.”
Pereira disse ainda que está em andamento uma parceria com a prefeitura de Uberaba para a continuação das ações do programa junto às propriedades daquele município. O secretário de Meio Ambiente de Uberaba, Ricardo Lima, disse que a parceria vai somar esforços para ampliar as áreas de preservação e reduzir os problemas com a falta de água em períodos de estiagem prolongada.
Confira uma galeria de fotos da nascente do rio Uberabinha:

sexta-feira, setembro 26, 2014

Além de relembrar a infância, uma jabuticabeira pode indicar, nos frutos, a influência do clima na produção

Estagiária Gabriela Troian, sob a orientação de J.G. Alves
Basta uma única jabuticabeira e pronto: uma via para vários sentimentos está aberta. Essa árvore, geralmente cheia de “bolinhas escuras”, remete aos tempos da infância, das brincadeiras e do contato próximo à natureza, quando comer a fruta direto do pé era quase uma regra. Mas além do passado, uma jabuticabeira também é um indicativo climático futuro: a floração e a frutificação estão intimamente associadas ao regime das chuvas, que pode adiantar a produção e determinar se ela será farta (ou não). Menos água, frutas pequenas e em menor quantidade.
                                         Dona Maria de Souza: rega para florir
A aposentada Maria Floripes de Souza, 76 anos, possui três jabuticabeiras em sua chácara na cidade de Monte Mor (SP) e já sente os reflexos da falta de chuvas, que ainda não aconteceram no volume esperado. Para que os pés iniciem logo a florada, a aposentada rega-os diariamente. “Quando está muito seco tem que colocar água. Este ano começou a florescer no final de agosto, ficou a coisa mais linda! Depois de vinte dias, dá frutas e as árvores ficam lotadas de bichinhos”, observa.
“A jabuticaba é 100% um reflexo da natureza. A forma como o clima está se comportando refletirá no jeito em que a árvore irá se comportar”, afirma a agrônoma Susanna Von Büllow Uilson, que possui em sua fazenda (a Santa Maria, no distrito de Joaquim Egídio, em Campinas, no interior de São Paulo) mais de 115 jabuticabeiras das espécies ponhema, jabará e paulista
                                     Jabuticabeiras da Fazenda Santa Maria
Diferentemente das jabuticabeiras de Maria de Souza, as de Susanna Uilson iniciaram a florada tardiamente, somente no mês de setembro, apesar de as árvores possuírem as mesmas características. E são dois os fatores que motivaram esta diferença: o primeiro está na altitude elevada, que reflete no ciclo; e o segundo, a falta de chuvas regulares. A seca atípica também refletiu numa florada menos intensa que em anos anteriores.
Segundo Suzanna Uilson, a falta de chuva é muito mais prejudicial à produção do que a falta de luz, por exemplo. “Esse ano a florada foi muito fraca, e é ela quem determina a produtividade. Por conta disso, já posso prever que a colheita não será tão promissora”, aponta a agrônoma.
                                                                Novos indivíduos
                                    Plantio por sementes: 15 anos para crescer
Susanna Uilson explica que há diversas formas se plantar uma muda de jabuticaba. As duas mais comuns são por borbulhias e por sementes. A primeira garante uma produtividade mais rápida, pois consiste em “clonar” outra árvore que já apresenta uma boa produção. De acordo com a agrônoma, em três a quatros anos a árvore começa a produzir. “Geneticamente falando ela (a árvore) é um clone da ‘mãe’. A jabuticabeira vai viver muitos anos, mas a produtividade dela será mais curta, pois ela já ‘nasce’ com a idade da árvore clonada”, explica Uilson.
Já pelo método de sementes, utilizado pela agrônoma em sua fazenda, a produtividade é mais lenta, pois um novo indivíduo está sendo formado. Para que a planta comece a produzir frutos, são necessários cerca de 15 anos desde o plantio.
Além disso, as jabuticabeiras são dependentes da polinização das abelhas para que novas árvores possam se desenvolver. “Logo após a florada, abelhas europeias (Apis mellifera) entram na flor através da parte feminina, colhem o mel e, no corpo delas, fica ‘grudado’ o pólen. A cada flor que as abelhas entram, um novo pé de jabuticaba irá nascer”, conta a agrônoma.
                                                                      Fruto rico
                                            Susanna Uilson: produção variada
A relação de uma jabuticabeira com a água não se restringe somente à produtividade. O tamanho dos frutos também está relacionado à abundância do recurso hídrico. Após anos de experiência com as árvores, Uilson conta que quanto mais abundantes são as chuvas maiores serão as jabuticabas. E, consequentemente, a falta ocasiona em frutos menores e mais doces, pela concentração de sólidos solúveis. “Épocas de grande seca o fruto é muito menor, cerca de 30%”, indica.
Quando o fruto começa a aparecer, de setembro a novembro, é inevitável não se lembrar das jabuticabas comidas no pé, nos licores caseiros e doces. Como diria Susanna Uilson, “jabuticabeira é coisa de avó”. Mas além do gosto de infância, a jabuticaba tem propriedades que fazem dela um alimento funcional. Ou seja, um alimento que traz benefícios ao organismo.
A partir disso, a agrônoma contribui com instituições de pesquisa, cedendo frutas e conhecimento. “Recentemente uma pesquisa da Unicamp apontou que a jabuticaba possui altos teores de antocianina, combatendo o câncer de próstata e o retardamento celular. Também auxílio a Embrapa para estudos futuros”, aponta a Uilson.
                                                                  Usos e visitas
Primeiras frutas começam a amadurecer
O primeiro deles foi a produção de um licor de jabuticaba totalmente sustentável. Ou seja, todos os resíduos da fabricação são reaproveitados, utilizados na compostagem, de forma a suprir as plantas com seus próprios nutrientes.
Além disso, Uilson abriu as porteiras da fazenda para o “Pague e Colha“, que acontece uma vez por ano, a cada produção. Durante cerca de 15 dias, as pessoas podem visitar os jabuticabais e comer a quantidade de frutos que quiser. Cada visitante paga um valor de entrada e pode ficar quanto tempo quiser. Caso deseje, ainda é possível, ao final do passeio, comprar jabuticabas. De acordo com a agrônoma, o preço varia de acordo com o tamanho das jabuticabas e só pode ser determinado quando os primeiros frutos começam a surgir.

Para agendar um horário de passeio no “Pague e Colha” basta enviar um e-mail para contato@fsantamaria.com.br ou reservas@restaurantedacapela.com.br.



quarta-feira, agosto 27, 2014

CAFÉ, A BEBIDA MÁGICA: UM EXPRESSO PARA MELHORAR A MEMÓRIA
Memória fraca? O consumo moderado de cafeína pode resolver esse problema. Novo estudo mostra que o café consolida nossas recordações visuais. E não apenas: a bebida tem várias outras propriedades medicinais nem sempre conhecidas pelos seus apreciadores. Sem falar nos seus atributos como “planta de poder”
                                                      Por: Luis Pellegrini
 Todos sabem que uma taça de café, pela manhã, tem o poder de nos tirar do torpor do sono. Um novo estudo publicado na revista Nature Neuroscience atribui ao café um outro efeito benéfico: O consumo moderado de cafeína pode potencializar a memória a longo prazo (aquela que possui capacidade ilimitada de armazenamento e que estoca as informações também por tempo ilimitado), ajudando-nos particularmente nas tarefas de discernimento visual. 
Nesse estudo, Michael Yassa, neurocientista da Johns Hopkins University de Baltimore, mostrou a 44 pacientes (nenhum deles grande consumidor de café, e todos em “jejum” de café há pelo menos 24 horas) uma sequência de imagens na tela do computador: um patinho de plástico, um automóvel, um martelo, uma cadeira, uma maçã e outros objetos de uso comum.
 À medida que cada imagem surgia, os voluntários tinham de dizer se se tratava de um objeto para ser usado em ambiente aberto ou fechado, mas a ninguém foi solicitado memorizar as imagens. Ao final do teste, a alguns foi dada uma pastilha contendo 200 miligramas de cafeína (um café expresso contem cerca de 150), e aos outros um placebo.
No dia seguinte, os pacientes foram colocados novamente diante de uma sequência de imagens: algumas eram idênticas àquelas mostradas no dia anterior, outras eram completamente novas, outras ainda eram ligeiramente diferentes (no design do martelo, por exemplo; ou na posição na qual eram mostradas). 


Perguntou-se a seguir aos voluntários se cada figura que viam era antiga, nova ou semelhante àquela vista no dia anterior; enquanto nos dois primeiros casos ambos os grupos totalizaram resultados análogos, quem tinha tomado cafeína reconheceu 10% a mais dos objetos similares.

Prudência é sempre bem vinda
Se o efeito for confirmado por estudos posteriores, o da memória a longo prazo seria o enésimo benefício atribuído a um consumo moderado de café. A substância já foi, no passado, associada a propriedades antitumorais, a uma melhor capacidade de tolerância à dor, a uma certa longevidade e a uma resistência mais alta contra o Mal de Alzheimer. Mas os neurocientistas ainda pedem que esses resultados sejam examinados com uma certa cautela e pedem testes ulteriores de confirmação, com o emprego de amostragens mais amplas. 

Se forem verdadeiros, no entanto, os efeitos do café sobre nossas capacidade mnemônicas – talvez devido a um aumento da norepinefrina, um hormônio do estresse associado à consolidação das recordações – isso seria um tesouro a ser desfrutado da melhor forma possível.
Uma planta que perdeu a magia
O café era conhecido e usado no Oriente Médio, na região onde hoje se situa a Etiópia, desde os primeiros séculos da era cristã. Segundo a lenda, suas propriedades estimulantes foram casualmente descobertas quando os nômades da região notaram que seus camelos ficavam excitados depois de comer os grãos de um certo arbusto. Em pouco tempo, os nômades passaram eles próprios a comer os grãos de café.
Os primeiros a usar o café com regularidade, segundo conta o botânico norte-americano Andrew Weil, um grande especialista em “plantas de poder”, foram os místicos muçulmanos, ascetas que buscavam estados alterados de consciência, experiências como meditação, hipnose, transe ou êxtase religioso. Costumavam reunir-se em grupos, uma noite por semana, com o objetivo de cantar e orar até o amanhecer. Como ajuda para essa prática religiosa, tomavam muito café. Mas não o tomavam fora das suas reuniões cerimoniais.
Assim, naqueles dias, o café era uma verdadeira planta sagrada, capaz de transportar o homem para os domínios celestes. Existia apenas num contexto religioso e ritual. Seus bebedores, segundo Weil, extraíam numerosas virtudes dessa planta, conservando-lhe o poder e nunca sofrendo o problema da toxidade. Com o passar do tempo, a sua popularidade aumentou, e o café saiu do contexto sagrado e pouco a pouco tornou-se uma bebida secular. As pessoas se acostumaram a tomar café cada vez mais frequentemente, sem propósito definido, e gradualmente ele perdeu seu poder e magia.
Hoje, encontramo-nos no final dessa evolução. Milhões e milhões de pessoas tomam café em nossos países. Quantas delas têm ideia de que sua bebida habitual era, numa determinada época, uma força poderosa, capaz de mudar a consciência humana? Não muitas. O pior, sempre segundo Andrew Weil, “é que o uso inconsciente do café a toda hora, cria um hábito dificílimo de romper – às vezes mais difícil do que os hábitos que se formam em torno de substâncias consideradas ilegais, como a maconha”.
Dez coisas que você talvez não saiba sobre o café
Planta mágica ou não, o café é a bebida mais difundida no planeta, depois da água. Ele é consumido em praticamente toda a parte. O país que mais consome café per capita é a Finlândia, e onde se bebe menos café é em Porto Rico. A cada dia são consumidas no mundo cerca de 1,6 bilhões de taças de café. Um número impressionante.

1. Nos meses frios, o consumo aumenta. Com 12 quilos ao ano por indivíduo, a Finlândia é o país onde mais se consome café. Porto Rico é o lugar onde se bebe menos café, com um consumo de cerca 400 gramas anuais por pessoa. A média de consumo mundial é de 1,3 quilos ao ano por pessoa. 

2. O café pode ser venenoso. A cafeína pode matar. Mas para isso é necessário beber entre 80 e 100 taças de café, num período de tempo de 4 horas. 

3. Café não contem apenas cafeína.  Existem pelo menos mil compostos químicos no café. Alguns deles são objeto de contínuas pesquisas por parte de especialistas, e poderiam ser usados no futuro para tratar e curar doenças cardíacas e insônia. Mas, segundo alguns estudos, o café também poderia conter, embora em dosagens mínimas, também cerca de vinte substâncias cancerígenas.

4. Ajuda em alguns tipos de câncer. Um estudo realizado em 2008 na Universidade de Lund, na Suécia, demonstrou que beber café reduz o risco de câncer de mama, pelo menos para as mulheres portadoras de uma variante relativamente comum do gene CYP1A2, que ajuda a metabolizar estrógenos e café. Em 2011 a Harvard School of Public Health falou de um estudo feito com 48 mil homens que, bebendo seis ou mais taças de café por dia, reduziram de 60% o risco de câncer de próstata. 
A última notícia, na ordem do tempo, assinala o poder do café como “antidepressivo”. Sempre segundo a Harvard School of Public Health, as pessoas que tomam entre 2 e 4 xícaras de café por dia têm uma possibilidade 50% menor de suicidar-se. 

5. Origens do nome café. Ao redor do ano 1000, alguns comerciantes árabes trouxeram das suas viagens à África alguns grãos de café dos quais obtinham, por ebulição, uma bebida excitante que chamavam qahwa (excitante, em árabe). Esse termo deu origem à palavra turca kahvé, que por sua vez transformou-se na Itália em “café”. Mas alguns sustentam que o nome na realidade deriva de Caffá, região da Etiópia onde o café cresce espontaneamente.
Graças aos mercadores venezianos e suas fortes conexões com a Turquia, o café se difundiu na Europa ao redor do século 17, com o nome provisório de “vinho da Arábia”.
Chamado pela Igreja de “bebida do diabo”, por causa das suas propriedades excitantes, durante muitas décadas o café foi preparado “a la turca”, dissolvido na água fervente e não coado. Foi apenas uma bebida de taverna até o início do século 18, quando os bares onde ele era servido tornaram-se ponto de encontro dos filósofos iluministas. Os próprios bares passaram então a chamar-se “cafés”, denominação que conservam até os dias de hoje na Europa, sobretudo na França e na Itália.
6. Nem todos o tomam... bebendo. O Príncipe Charles da Inglaterra, apaixonado estudioso de ecologia e praticante de terapias médicas alternativas, é usuário de clisteres de café como terapia preventiva contra o câncer. O site Amazon vende kits para que o usuário faça sozinho o seu clister de café.
7. Os artistas gostam de café. O compositor Johann Sebastian Bach gostava tanto de café que até dedicou uma inteira cantata à bebida, a famosa Kaffeekantate, composta em Leipzig, entre 1732 e 1735. Veja vídeo, abaixo, com gravação dessa bela cantata.

8. Os esportistas também gostam. Segundo estudo da Universidade de Queensland, publicado no Journal of Science and Medicine in Sport, os ciclistas que tomam uma xícara de café uma hora antes da corrida ganham em média 2% a mais em termos de velocidade. 

9. Uma variedade quase sem cafeína. Existe uma única variedade de café naturalmente destituído de cafeína: a Coffea charrieriana, originária de Camarões. Todas as demais variedade precisam ser descafeinadas de maneira artificial. Mas é impossível eliminar por completo a cafeína. Segundo estudo da Universidade da Flórida, em cada xícara de café descafeinado existe o equivalente de um quinto a 1 décimo da cafeína contida numa xícara de café expresso normal. 

10. Por que o café servido em alguns lugares é mais forte? Depende da mistura (blend) feita pelos produtores. As duas principais espécies de café, a robusta e a arábica não têm as mesmas características organoléticas. A robusta pode conter até o dobro da cafeína do arábica (que é mais apreciado, por ser menos “forte”). O sabor mais ou menos forte depende em parte também da torração.


Vídeo: Cantata do Café (Kaffeekantate, BWV 211), Johann Sebastian Bach. The Amsterdam Baroque Orchestra & Choir, regência de Ton Koopman.

sexta-feira, junho 06, 2014

Polícia Ambiental e crianças fazem limpeza no Parque Linear em Uberlândia

5/06/2014 19:59
Leonardo Leal Repórter
Uma ação de limpeza no Parque Linear, às margens do rio Uberabinha, foi realizada nesta quinta-feira (5) por militares da 9ª Companhia de Polícia Militar Independente de Meio Ambiente e Trânsito Rodoviário (9ª Cia. PM Ind. MAT), dentro das atividades da Semana do Meio Ambiente. Cerca de 50 pessoas participaram da limpeza, que contou com voluntários do Serviço Social do Transporte (SEST), do Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (SENAT) e crianças atendidas pela Legião da Boa Vontade (LBV). Ao todo foram recolhidos 15 sacos de lixo de 100 litros e dois pneus no parque, que fica entre os bairros Daniel Fonseca, no setor central, e Jaraguá, zona oeste de Uberlândia.
15 sacos de lixos foram recolhidos (Foto: Cleiton Borges)
De acordo com o subcomandante da 9ª Cia. PM Ind. MAT, o 1º Tenente Thiago Andrade Lana, a ação visa prestar um serviço à sociedade e conscientizar da importância de se manter as áreas verdes limpas. “O parque linear é uma área aberta que merece ser bem cuidado”, afirmou. Entre os detritos recolhidos na limpeza estavam papéis, plásticos, maços de cigarro, entre outros.
Entre os voluntários da limpeza, estavam as gêmeas Milena Soares Cunha e Marcela Soares Cunha, de 12 anos, que participam dos programas da LBV. “Me sinto feliz em colaborar com a limpeza do parque e ao mesmo tempo reduzir o acúmulo de lixo no meio ambiente”, disse Marcela Cunha. A gestora social da LBV, Andreia Heloisa Arantes lembrou que a participação das crianças é uma forma de praticar o que elas aprendem nos projetos culturais e educativos da entidade.
A ação coordenada pela PM foi elogiada por frequentadores do parque. A professora aposentada Maria Lopes Ventura disse que a dedicação das crianças em limpar o parque é um exemplo para as outras pessoas.
Domingo tem pedalada ecológica
Uma pedalada ecológica será realizada no domingo (8) pela 9ª Cia. de Polícia do Meio Ambiente e Trânsito da Polícia Militar dentro das atividades da Semana do Meio Ambiente.
Segundo o subcomandante da companhia, o 1º Tenente Thiago Andrade Lana, a concentração será às 8h da manhã, na sede da companhia à rua Varginha, 387, bairro Daniel Fonseca, setor central da cidade. O grupo seguirá da companhia pela avenida Rondon Pacheco até o Center Shopping e voltará ao ponto de concentração.

quinta-feira, maio 29, 2014

Corredores ambientais na RMC aumentam a área preservada de floresta e permitem que animais circulem em segurança

Estagiária Gabriela Troian, sob a orientação de J.G. Alves
Tempo úmido é característico do litoral
Considerada como hotspot mundial, ou seja, uma das áreas mais ricas em biodiversidade e mais ameaçadas no planeta, a Mata Atlântica é, sem dúvidas, o bioma brasileiro mais impactado. Segundo dados da Fundação SOS Mata Atlântica, restam somente 8,5 % da área remanescente de floresta. Hoje, 27 de maio, comemora-se o Dia Nacional da Mata Atlântica, e mesmo em alerta, corredores ambientais dão sobrevida a regiões interioranas.
A maior parte preservada da floresta encontra-se na costa litorânea, mas devido ao terreno acidentado por montanhas e serras, a ocupação é dificultada. A área mais impactada está nas regiões interioranas, onde se encontra cerca de 62% da população brasileira. E além de grande parte dessa área ter sido desmatada (para dar lugar a ocupações urbanas, em sua grande maioria), as características florestais entre o litoral e o interior são diferentes, explica Márcia Rodrigues, analista ambiental do projeto Corredor das Onças, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Márcia Rodrigues, do projeto Corredor das Onças
“Na região da serra do mar, que não está ocupada, não há seca, então as plantas não se impactam tanto como no interior, que apresenta um período de seca mais demarcado e muda a fisionomia das matas. Estas dependem muito mais de animais dispersores para sobreviver”, avalia. E para que a mata continue viva também no interior, Márcia Rodrigues encabeça o projeto do Corredor das Onças. Para tanto, analisou a região da bacia PCJ, que compõem os rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí e seus afluentes, na Região Metropolitana de Campinas (RMC).
Estes estudos identificaram os fragmentos de mata espalhados pela região e que poderiam formar áreas de corredores ambientais. Também se constatou a presença de onças pela RMC. “Ter onças pela região é sinônimo de que há um grande potencial de conservação. Nosso intuito é conectar estes fragmentos para que os animais transitem em segurança”, afirma Rodrigues. Daí a razão destes animais terem-se tornado o símbolo do projeto. Apoio à iniciativa
Roberto Schneider mostra a diferença do antes e depois em sua propriedade: 15 anos de trabalho árduo
Até o momento, foram identificadas 110 propriedades que possuem fragmentos. Juntos, totalizam 34 mil hectares. Márcia Rodrigues explica que a próxima fase do projeto é a de “convencer” os produtores rurais da importância que essas áreas têm para a conservação do bioma. “Ganhamos como aliado o CAR (Cadastro Ambiental Rural) em que os proprietários de terra devem ter áreas florestadas em suas propriedades. Mostramos a importância do plantio, como será o trabalho do corredor e também auxiliaremos com o reflorestamento”, ressalta.
Diante do fato de que 80% das áreas de Mata Atlântica preservada se encontram em áreas particulares e de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs), Mario Mantovani, ambientalista e diretor de Mobilização da Fundação SOS Mata Atlântica, acredita que com as novas regras e prazos o CAR pode se tornar sim um aliado à preservação destas propriedades. Mas faz uma ressalva: “O Cadastro Ambiental Rural pode ajudar na conservação e no reflorestamento se houver um monitoramento eficaz dos governos e municípios”, diz.
Das 110 propriedades identificadas na região, 60 já aderiram ao projeto. Este é o caso do produtor rural Roberto Eduardo Schneider, que desde 1999 possui um sítio de 4,4 hectares, localizado na cidade de Cosmópolis. “Quando cheguei, era tudo um grande pasto. Aí comecei a plantar e hoje vejo tucanosveado-campeiroteiú e muitos pássaros da varanda de minha casa”, aponta a diferença após 15 anos de labuta em suas terras.
Marco Antônio Pacheco segue os passos de outros produtores e aposta na mata viva
Da mesma forma que Schneider, o também produtor rural Marco Antonio Cintra Pacheco reflorestou por conta própria sua propriedade de 11 hectares, herança pelo pai, na cidade de Artur Nogueira. “Não se tinha essa consciência, pois se criava gado. Eu via a nascente descuidada e plantei algumas mudas doadas pela prefeitura e já noto a diferença. Além de muito mais bonito, antigamente se tinha muita enxurrada, agora não tem mais”, conta Pacheco.
A presença de animais e a falta de enxurradas em áreas próximas a rios já são reflexo do reflorestamento e da formação de corredores ambientais, aponta Márcia Rodrigues. “Preservar estas áreas auxilia na circulação da fauna, que transita em segurança. Os animais, como macacos, dispersam as sementes, auxiliando na manutenção das árvores e aumentando a diversidade genética. E, por estar em áreas ligadas a nascentes e rios, a água fornecida à região terá uma qualidade muito melhor”, avalia a analista ambiental.
Marco Antonio Cintra Pacheco pretende reflorestar mais uma parte de sua propriedade, para ligá-la a uma área próxima ao Rio Pirapitingui e, assim, formar um corredor ambiental e aumentar ainda mais a preservação em suas terras. Como ele, os demais produtores contarão com a orientação do projeto e compensação ambiental (onde empresas privadas investem na recuperação de áreas verdes, geralmente em função de provocar algum tipo de degradação por obras realizadas).
Onças são o aval para viabilizar iniciativa
Márcia Rodrigues ressalta que pequenas regiões isoladas não cumprem a função total da preservação, pois para contabilizarem como integrantes do bioma devem ter uma área acima de três hectares. “Um fragmento pequeno não abriga uma população diferenciada, mas se eles se unem, juntos podem aumentar muito mais a diversidade de plantas e animais”, reconhece.