Além de
relembrar a infância, uma jabuticabeira pode indicar, nos frutos, a influência
do clima na produção
Estagiária
Gabriela Troian, sob a orientação de J.G. Alves
Basta uma única jabuticabeira e pronto: uma via
para vários sentimentos está aberta. Essa árvore, geralmente cheia de “bolinhas
escuras”, remete aos tempos da infância, das brincadeiras e do contato próximo
à natureza, quando comer a fruta direto do pé era quase uma regra. Mas além do
passado, uma jabuticabeira também é um indicativo climático futuro: a floração
e a frutificação estão intimamente associadas ao regime das chuvas, que pode
adiantar a produção e determinar se ela será farta (ou não). Menos água, frutas
pequenas e em menor quantidade.
Dona Maria de Souza: rega para florir
A aposentada Maria Floripes de Souza, 76 anos, possui
três jabuticabeiras em sua chácara na cidade de Monte Mor (SP) e já sente os
reflexos da falta de chuvas, que ainda não aconteceram no volume esperado. Para
que os pés iniciem logo a florada, a aposentada rega-os diariamente. “Quando
está muito seco tem que colocar água. Este ano começou a florescer no final de
agosto, ficou a coisa mais linda! Depois de vinte dias, dá frutas e as árvores
ficam lotadas de bichinhos”, observa.
“A jabuticaba é 100% um reflexo da natureza. A forma
como o clima está se comportando refletirá no jeito em que a árvore irá se
comportar”, afirma a agrônoma Susanna Von Büllow Uilson, que possui em sua
fazenda (a Santa Maria, no distrito de Joaquim Egídio, em Campinas, no interior
de São Paulo) mais de 115 jabuticabeiras das espécies ponhema, jabará e
paulista
Jabuticabeiras da Fazenda Santa Maria
Diferentemente das jabuticabeiras de Maria de Souza, as de Susanna
Uilson iniciaram a florada tardiamente, somente no mês de setembro, apesar de
as árvores possuírem as mesmas características. E são dois os fatores que motivaram
esta diferença: o primeiro está na altitude elevada, que reflete no ciclo; e o
segundo, a falta de chuvas regulares. A seca atípica também refletiu numa
florada menos intensa que em anos anteriores.
Segundo Suzanna Uilson, a falta de chuva é muito mais
prejudicial à produção do que a falta de luz, por exemplo. “Esse ano a florada
foi muito fraca, e é ela quem determina a produtividade. Por conta disso, já
posso prever que a colheita não será tão promissora”, aponta a agrônoma.
Novos
indivíduos
Plantio por sementes: 15 anos para crescer
Susanna Uilson explica que há diversas formas se plantar
uma muda de jabuticaba. As duas mais comuns são por borbulhias e por sementes.
A primeira garante uma produtividade mais rápida, pois consiste em “clonar”
outra árvore que já apresenta uma boa produção. De acordo com a agrônoma, em
três a quatros anos a árvore começa a produzir. “Geneticamente falando ela (a
árvore) é um clone da ‘mãe’. A jabuticabeira vai viver muitos anos, mas a
produtividade dela será mais curta, pois ela já ‘nasce’ com a idade da árvore
clonada”, explica Uilson.
Já pelo método de sementes, utilizado pela
agrônoma em sua fazenda, a produtividade é mais lenta, pois um novo indivíduo
está sendo formado. Para que a planta comece a produzir frutos, são necessários
cerca de 15 anos desde o plantio.
Além disso, as jabuticabeiras são
dependentes da polinização das abelhas para que novas árvores possam se
desenvolver. “Logo após a florada, abelhas
europeias (Apis
mellifera) entram na flor através da parte feminina, colhem o mel
e, no corpo delas, fica ‘grudado’ o pólen. A cada flor que as abelhas entram, um novo pé de jabuticaba irá
nascer”, conta a agrônoma.
Fruto
rico
Susanna Uilson: produção variada
A relação de uma jabuticabeira com a água não se
restringe somente à produtividade. O tamanho dos frutos também está relacionado
à abundância do recurso hídrico. Após anos de experiência com as árvores,
Uilson conta que quanto mais abundantes são as chuvas maiores serão as
jabuticabas. E, consequentemente, a falta ocasiona em frutos menores e mais
doces, pela concentração de sólidos solúveis. “Épocas de grande seca o fruto é
muito menor, cerca de 30%”, indica.
Quando o fruto começa a aparecer, de
setembro a novembro, é inevitável não se lembrar das jabuticabas comidas no pé,
nos licores caseiros e doces. Como diria Susanna Uilson, “jabuticabeira é coisa
de avó”. Mas além do gosto de infância, a jabuticaba tem propriedades que fazem
dela um alimento funcional. Ou seja, um alimento que traz benefícios ao
organismo.
A partir disso, a agrônoma contribui com
instituições de pesquisa, cedendo frutas e conhecimento. “Recentemente uma
pesquisa da Unicamp apontou que a jabuticaba possui altos teores de
antocianina, combatendo o câncer de próstata e o retardamento celular. Também
auxílio a Embrapa para estudos futuros”, aponta a Uilson.
Usos
e visitas
Primeiras frutas começam a amadurecer
O primeiro deles foi a produção de um licor de
jabuticaba totalmente sustentável. Ou seja, todos os resíduos da fabricação são
reaproveitados, utilizados na compostagem, de forma a suprir as plantas com
seus próprios nutrientes.
Além disso, Uilson abriu as porteiras da
fazenda para o “Pague
e Colha“, que acontece uma vez por ano, a cada produção. Durante
cerca de 15 dias, as pessoas podem visitar os jabuticabais e comer a quantidade
de frutos que quiser. Cada visitante paga um valor de entrada e pode ficar
quanto tempo quiser. Caso deseje, ainda é possível, ao final do passeio,
comprar jabuticabas. De acordo com a agrônoma, o preço varia de acordo com o
tamanho das jabuticabas e só pode ser determinado quando os primeiros frutos
começam a surgir.
Para agendar um horário de passeio no “Pague e
Colha” basta enviar
um e-mail para contato@fsantamaria.com.br ou reservas@restaurantedacapela.com.br.
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