CAFÉ, A
BEBIDA MÁGICA: UM EXPRESSO PARA MELHORAR A MEMÓRIA
Por: Luis PellegriniMemória fraca? O consumo moderado de cafeína pode resolver esse problema. Novo estudo mostra que o café consolida nossas recordações visuais. E não apenas: a bebida tem várias outras propriedades medicinais nem sempre conhecidas pelos seus apreciadores. Sem falar nos seus atributos como “planta de poder”
Todos sabem que uma taça de café, pela manhã, tem o poder de nos
tirar do torpor do sono. Um novo estudo publicado na revista Nature
Neuroscience atribui ao café um outro efeito benéfico: O consumo moderado de
cafeína pode potencializar a memória a longo prazo (aquela que possui
capacidade ilimitada de armazenamento e que estoca as informações também por
tempo ilimitado), ajudando-nos particularmente nas tarefas de discernimento
visual.
Nesse estudo, Michael Yassa, neurocientista da Johns Hopkins
University de Baltimore, mostrou a 44 pacientes (nenhum deles grande consumidor
de café, e todos em “jejum” de café há pelo menos 24 horas) uma sequência de
imagens na tela do computador: um patinho de plástico, um automóvel, um
martelo, uma cadeira, uma maçã e outros objetos de uso comum.
À medida que cada imagem surgia, os voluntários tinham de
dizer se se tratava de um objeto para ser usado em ambiente aberto ou fechado,
mas a ninguém foi solicitado memorizar as imagens. Ao final do teste, a alguns
foi dada uma pastilha contendo 200 miligramas de cafeína (um café expresso
contem cerca de 150), e aos outros um placebo.
No dia seguinte, os pacientes foram colocados novamente diante
de uma sequência de imagens: algumas eram idênticas àquelas mostradas no dia
anterior, outras eram completamente novas, outras ainda eram ligeiramente
diferentes (no design do martelo, por exemplo; ou na posição na qual eram
mostradas).
Perguntou-se a seguir aos voluntários se cada figura que viam era antiga, nova
ou semelhante àquela vista no dia anterior; enquanto nos dois primeiros casos
ambos os grupos totalizaram resultados análogos, quem tinha tomado cafeína
reconheceu 10% a mais dos objetos similares.
Prudência é sempre bem vinda
Se o efeito for confirmado por estudos posteriores, o da memória
a longo prazo seria o enésimo benefício atribuído a um consumo moderado de
café. A substância já foi, no passado, associada a propriedades antitumorais, a
uma melhor capacidade de tolerância à dor, a uma certa longevidade e a uma
resistência mais alta contra o Mal de Alzheimer. Mas os neurocientistas ainda
pedem que esses resultados sejam examinados com uma certa cautela e pedem
testes ulteriores de confirmação, com o emprego de amostragens mais amplas.
Se forem verdadeiros, no entanto, os efeitos do café sobre nossas capacidade mnemônicas – talvez devido a um aumento da norepinefrina, um hormônio do estresse associado à consolidação das recordações – isso seria um tesouro a ser desfrutado da melhor forma possível.
Se forem verdadeiros, no entanto, os efeitos do café sobre nossas capacidade mnemônicas – talvez devido a um aumento da norepinefrina, um hormônio do estresse associado à consolidação das recordações – isso seria um tesouro a ser desfrutado da melhor forma possível.
Uma planta que perdeu a magia
O café era conhecido e usado no Oriente Médio, na região onde
hoje se situa a Etiópia, desde os primeiros séculos da era cristã. Segundo a
lenda, suas propriedades estimulantes foram casualmente descobertas quando os
nômades da região notaram que seus camelos ficavam excitados depois de comer os
grãos de um certo arbusto. Em pouco tempo, os nômades passaram eles próprios a
comer os grãos de café.
Os primeiros a usar o café com regularidade, segundo conta o
botânico norte-americano Andrew Weil, um grande especialista em “plantas de
poder”, foram os místicos muçulmanos, ascetas que buscavam estados alterados de
consciência, experiências como meditação, hipnose, transe ou êxtase religioso.
Costumavam reunir-se em grupos, uma noite por semana, com o objetivo de cantar
e orar até o amanhecer. Como ajuda para essa prática religiosa, tomavam muito
café. Mas não o tomavam fora das suas reuniões cerimoniais.
Assim, naqueles dias, o café era uma verdadeira planta sagrada,
capaz de transportar o homem para os domínios celestes. Existia apenas num
contexto religioso e ritual. Seus bebedores, segundo Weil, extraíam numerosas
virtudes dessa planta, conservando-lhe o poder e nunca sofrendo o problema da
toxidade. Com o passar do tempo, a sua popularidade aumentou, e o café saiu do
contexto sagrado e pouco a pouco tornou-se uma bebida secular. As pessoas se
acostumaram a tomar café cada vez mais frequentemente, sem propósito definido,
e gradualmente ele perdeu seu poder e magia.
Hoje, encontramo-nos no final dessa evolução. Milhões e milhões
de pessoas tomam café em nossos países. Quantas delas têm ideia de que sua bebida
habitual era, numa determinada época, uma força poderosa, capaz de mudar a
consciência humana? Não muitas. O pior, sempre segundo Andrew Weil, “é que o
uso inconsciente do café a toda hora, cria um hábito dificílimo de romper – às
vezes mais difícil do que os hábitos que se formam em torno de substâncias
consideradas ilegais, como a maconha”.
Dez coisas que você talvez não
saiba sobre o café
Planta mágica ou não, o café é a
bebida mais difundida no planeta, depois da água. Ele é consumido em praticamente
toda a parte. O país que mais consome café per capita é a Finlândia, e onde se
bebe menos café é em Porto Rico. A cada dia são consumidas no mundo cerca de
1,6 bilhões de taças de café. Um número impressionante.
1. Nos meses frios, o consumo aumenta. Com 12 quilos ao ano por indivíduo, a Finlândia é o país onde mais se consome café. Porto Rico é o lugar onde se bebe menos café, com um consumo de cerca 400 gramas anuais por pessoa. A média de consumo mundial é de 1,3 quilos ao ano por pessoa.
2. O café pode ser venenoso. A cafeína pode matar. Mas para isso é necessário beber entre 80 e 100 taças de café, num período de tempo de 4 horas.
3. Café não contem apenas cafeína. Existem pelo menos mil compostos químicos no café. Alguns deles são objeto de contínuas pesquisas por parte de especialistas, e poderiam ser usados no futuro para tratar e curar doenças cardíacas e insônia. Mas, segundo alguns estudos, o café também poderia conter, embora em dosagens mínimas, também cerca de vinte substâncias cancerígenas.
1. Nos meses frios, o consumo aumenta. Com 12 quilos ao ano por indivíduo, a Finlândia é o país onde mais se consome café. Porto Rico é o lugar onde se bebe menos café, com um consumo de cerca 400 gramas anuais por pessoa. A média de consumo mundial é de 1,3 quilos ao ano por pessoa.
2. O café pode ser venenoso. A cafeína pode matar. Mas para isso é necessário beber entre 80 e 100 taças de café, num período de tempo de 4 horas.
3. Café não contem apenas cafeína. Existem pelo menos mil compostos químicos no café. Alguns deles são objeto de contínuas pesquisas por parte de especialistas, e poderiam ser usados no futuro para tratar e curar doenças cardíacas e insônia. Mas, segundo alguns estudos, o café também poderia conter, embora em dosagens mínimas, também cerca de vinte substâncias cancerígenas.
4. Ajuda em alguns tipos de
câncer. Um estudo realizado em 2008 na
Universidade de Lund, na Suécia, demonstrou que beber café reduz o risco de
câncer de mama, pelo menos para as mulheres portadoras de uma variante
relativamente comum do gene CYP1A2, que ajuda a metabolizar estrógenos e café.
Em 2011 a Harvard School of Public Health falou de um estudo feito com 48 mil
homens que, bebendo seis ou mais taças de café por dia, reduziram de 60% o
risco de câncer de próstata.
A última notícia, na ordem do tempo,
assinala o poder do café como “antidepressivo”. Sempre segundo a Harvard School
of Public Health, as pessoas que tomam entre 2 e 4 xícaras de café por dia têm
uma possibilidade 50% menor de suicidar-se.
5. Origens do nome café. Ao redor do ano 1000, alguns comerciantes árabes trouxeram das suas viagens à África alguns grãos de café dos quais obtinham, por ebulição, uma bebida excitante que chamavam qahwa (excitante, em árabe). Esse termo deu origem à palavra turca kahvé, que por sua vez transformou-se na Itália em “café”. Mas alguns sustentam que o nome na realidade deriva de Caffá, região da Etiópia onde o café cresce espontaneamente.
5. Origens do nome café. Ao redor do ano 1000, alguns comerciantes árabes trouxeram das suas viagens à África alguns grãos de café dos quais obtinham, por ebulição, uma bebida excitante que chamavam qahwa (excitante, em árabe). Esse termo deu origem à palavra turca kahvé, que por sua vez transformou-se na Itália em “café”. Mas alguns sustentam que o nome na realidade deriva de Caffá, região da Etiópia onde o café cresce espontaneamente.
Graças aos mercadores venezianos e suas fortes conexões com a
Turquia, o café se difundiu na Europa ao redor do século 17, com o nome
provisório de “vinho da Arábia”.
Chamado pela Igreja de “bebida do diabo”, por causa das suas
propriedades excitantes, durante muitas décadas o café foi preparado “a la
turca”, dissolvido na água fervente e não coado. Foi apenas uma bebida de
taverna até o início do século 18, quando os bares onde ele era servido
tornaram-se ponto de encontro dos filósofos iluministas. Os próprios bares
passaram então a chamar-se “cafés”, denominação que conservam até os dias de
hoje na Europa, sobretudo na França e na Itália.
6. Nem todos o tomam...
bebendo. O Príncipe Charles da Inglaterra,
apaixonado estudioso de ecologia e praticante de terapias médicas alternativas,
é usuário de clisteres de café como terapia preventiva contra o câncer. O site
Amazon vende kits para que o usuário faça sozinho o seu clister de café.
7. Os artistas gostam de
café. O compositor Johann Sebastian Bach
gostava tanto de café que até dedicou uma inteira cantata à bebida, a famosa
Kaffeekantate, composta em Leipzig, entre 1732 e 1735. Veja vídeo, abaixo, com
gravação dessa bela cantata.
8. Os esportistas também gostam. Segundo estudo da Universidade de Queensland, publicado no Journal of Science and Medicine in Sport, os ciclistas que tomam uma xícara de café uma hora antes da corrida ganham em média 2% a mais em termos de velocidade.
9. Uma variedade quase sem cafeína. Existe uma única variedade de café naturalmente destituído de cafeína: a Coffea charrieriana, originária de Camarões. Todas as demais variedade precisam ser descafeinadas de maneira artificial. Mas é impossível eliminar por completo a cafeína. Segundo estudo da Universidade da Flórida, em cada xícara de café descafeinado existe o equivalente de um quinto a 1 décimo da cafeína contida numa xícara de café expresso normal.
10. Por que o café servido em alguns lugares é mais forte? Depende da mistura (blend) feita pelos produtores. As duas principais espécies de café, a robusta e a arábica não têm as mesmas características organoléticas. A robusta pode conter até o dobro da cafeína do arábica (que é mais apreciado, por ser menos “forte”). O sabor mais ou menos forte depende em parte também da torração.
8. Os esportistas também gostam. Segundo estudo da Universidade de Queensland, publicado no Journal of Science and Medicine in Sport, os ciclistas que tomam uma xícara de café uma hora antes da corrida ganham em média 2% a mais em termos de velocidade.
9. Uma variedade quase sem cafeína. Existe uma única variedade de café naturalmente destituído de cafeína: a Coffea charrieriana, originária de Camarões. Todas as demais variedade precisam ser descafeinadas de maneira artificial. Mas é impossível eliminar por completo a cafeína. Segundo estudo da Universidade da Flórida, em cada xícara de café descafeinado existe o equivalente de um quinto a 1 décimo da cafeína contida numa xícara de café expresso normal.
10. Por que o café servido em alguns lugares é mais forte? Depende da mistura (blend) feita pelos produtores. As duas principais espécies de café, a robusta e a arábica não têm as mesmas características organoléticas. A robusta pode conter até o dobro da cafeína do arábica (que é mais apreciado, por ser menos “forte”). O sabor mais ou menos forte depende em parte também da torração.
Vídeo: Cantata do Café
(Kaffeekantate, BWV 211), Johann Sebastian Bach. The Amsterdam Baroque Orchestra & Choir, regência de Ton
Koopman.
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