quarta-feira, agosto 27, 2014

CAFÉ, A BEBIDA MÁGICA: UM EXPRESSO PARA MELHORAR A MEMÓRIA
Memória fraca? O consumo moderado de cafeína pode resolver esse problema. Novo estudo mostra que o café consolida nossas recordações visuais. E não apenas: a bebida tem várias outras propriedades medicinais nem sempre conhecidas pelos seus apreciadores. Sem falar nos seus atributos como “planta de poder”
                                                      Por: Luis Pellegrini
 Todos sabem que uma taça de café, pela manhã, tem o poder de nos tirar do torpor do sono. Um novo estudo publicado na revista Nature Neuroscience atribui ao café um outro efeito benéfico: O consumo moderado de cafeína pode potencializar a memória a longo prazo (aquela que possui capacidade ilimitada de armazenamento e que estoca as informações também por tempo ilimitado), ajudando-nos particularmente nas tarefas de discernimento visual. 
Nesse estudo, Michael Yassa, neurocientista da Johns Hopkins University de Baltimore, mostrou a 44 pacientes (nenhum deles grande consumidor de café, e todos em “jejum” de café há pelo menos 24 horas) uma sequência de imagens na tela do computador: um patinho de plástico, um automóvel, um martelo, uma cadeira, uma maçã e outros objetos de uso comum.
 À medida que cada imagem surgia, os voluntários tinham de dizer se se tratava de um objeto para ser usado em ambiente aberto ou fechado, mas a ninguém foi solicitado memorizar as imagens. Ao final do teste, a alguns foi dada uma pastilha contendo 200 miligramas de cafeína (um café expresso contem cerca de 150), e aos outros um placebo.
No dia seguinte, os pacientes foram colocados novamente diante de uma sequência de imagens: algumas eram idênticas àquelas mostradas no dia anterior, outras eram completamente novas, outras ainda eram ligeiramente diferentes (no design do martelo, por exemplo; ou na posição na qual eram mostradas). 


Perguntou-se a seguir aos voluntários se cada figura que viam era antiga, nova ou semelhante àquela vista no dia anterior; enquanto nos dois primeiros casos ambos os grupos totalizaram resultados análogos, quem tinha tomado cafeína reconheceu 10% a mais dos objetos similares.

Prudência é sempre bem vinda
Se o efeito for confirmado por estudos posteriores, o da memória a longo prazo seria o enésimo benefício atribuído a um consumo moderado de café. A substância já foi, no passado, associada a propriedades antitumorais, a uma melhor capacidade de tolerância à dor, a uma certa longevidade e a uma resistência mais alta contra o Mal de Alzheimer. Mas os neurocientistas ainda pedem que esses resultados sejam examinados com uma certa cautela e pedem testes ulteriores de confirmação, com o emprego de amostragens mais amplas. 

Se forem verdadeiros, no entanto, os efeitos do café sobre nossas capacidade mnemônicas – talvez devido a um aumento da norepinefrina, um hormônio do estresse associado à consolidação das recordações – isso seria um tesouro a ser desfrutado da melhor forma possível.
Uma planta que perdeu a magia
O café era conhecido e usado no Oriente Médio, na região onde hoje se situa a Etiópia, desde os primeiros séculos da era cristã. Segundo a lenda, suas propriedades estimulantes foram casualmente descobertas quando os nômades da região notaram que seus camelos ficavam excitados depois de comer os grãos de um certo arbusto. Em pouco tempo, os nômades passaram eles próprios a comer os grãos de café.
Os primeiros a usar o café com regularidade, segundo conta o botânico norte-americano Andrew Weil, um grande especialista em “plantas de poder”, foram os místicos muçulmanos, ascetas que buscavam estados alterados de consciência, experiências como meditação, hipnose, transe ou êxtase religioso. Costumavam reunir-se em grupos, uma noite por semana, com o objetivo de cantar e orar até o amanhecer. Como ajuda para essa prática religiosa, tomavam muito café. Mas não o tomavam fora das suas reuniões cerimoniais.
Assim, naqueles dias, o café era uma verdadeira planta sagrada, capaz de transportar o homem para os domínios celestes. Existia apenas num contexto religioso e ritual. Seus bebedores, segundo Weil, extraíam numerosas virtudes dessa planta, conservando-lhe o poder e nunca sofrendo o problema da toxidade. Com o passar do tempo, a sua popularidade aumentou, e o café saiu do contexto sagrado e pouco a pouco tornou-se uma bebida secular. As pessoas se acostumaram a tomar café cada vez mais frequentemente, sem propósito definido, e gradualmente ele perdeu seu poder e magia.
Hoje, encontramo-nos no final dessa evolução. Milhões e milhões de pessoas tomam café em nossos países. Quantas delas têm ideia de que sua bebida habitual era, numa determinada época, uma força poderosa, capaz de mudar a consciência humana? Não muitas. O pior, sempre segundo Andrew Weil, “é que o uso inconsciente do café a toda hora, cria um hábito dificílimo de romper – às vezes mais difícil do que os hábitos que se formam em torno de substâncias consideradas ilegais, como a maconha”.
Dez coisas que você talvez não saiba sobre o café
Planta mágica ou não, o café é a bebida mais difundida no planeta, depois da água. Ele é consumido em praticamente toda a parte. O país que mais consome café per capita é a Finlândia, e onde se bebe menos café é em Porto Rico. A cada dia são consumidas no mundo cerca de 1,6 bilhões de taças de café. Um número impressionante.

1. Nos meses frios, o consumo aumenta. Com 12 quilos ao ano por indivíduo, a Finlândia é o país onde mais se consome café. Porto Rico é o lugar onde se bebe menos café, com um consumo de cerca 400 gramas anuais por pessoa. A média de consumo mundial é de 1,3 quilos ao ano por pessoa. 

2. O café pode ser venenoso. A cafeína pode matar. Mas para isso é necessário beber entre 80 e 100 taças de café, num período de tempo de 4 horas. 

3. Café não contem apenas cafeína.  Existem pelo menos mil compostos químicos no café. Alguns deles são objeto de contínuas pesquisas por parte de especialistas, e poderiam ser usados no futuro para tratar e curar doenças cardíacas e insônia. Mas, segundo alguns estudos, o café também poderia conter, embora em dosagens mínimas, também cerca de vinte substâncias cancerígenas.

4. Ajuda em alguns tipos de câncer. Um estudo realizado em 2008 na Universidade de Lund, na Suécia, demonstrou que beber café reduz o risco de câncer de mama, pelo menos para as mulheres portadoras de uma variante relativamente comum do gene CYP1A2, que ajuda a metabolizar estrógenos e café. Em 2011 a Harvard School of Public Health falou de um estudo feito com 48 mil homens que, bebendo seis ou mais taças de café por dia, reduziram de 60% o risco de câncer de próstata. 
A última notícia, na ordem do tempo, assinala o poder do café como “antidepressivo”. Sempre segundo a Harvard School of Public Health, as pessoas que tomam entre 2 e 4 xícaras de café por dia têm uma possibilidade 50% menor de suicidar-se. 

5. Origens do nome café. Ao redor do ano 1000, alguns comerciantes árabes trouxeram das suas viagens à África alguns grãos de café dos quais obtinham, por ebulição, uma bebida excitante que chamavam qahwa (excitante, em árabe). Esse termo deu origem à palavra turca kahvé, que por sua vez transformou-se na Itália em “café”. Mas alguns sustentam que o nome na realidade deriva de Caffá, região da Etiópia onde o café cresce espontaneamente.
Graças aos mercadores venezianos e suas fortes conexões com a Turquia, o café se difundiu na Europa ao redor do século 17, com o nome provisório de “vinho da Arábia”.
Chamado pela Igreja de “bebida do diabo”, por causa das suas propriedades excitantes, durante muitas décadas o café foi preparado “a la turca”, dissolvido na água fervente e não coado. Foi apenas uma bebida de taverna até o início do século 18, quando os bares onde ele era servido tornaram-se ponto de encontro dos filósofos iluministas. Os próprios bares passaram então a chamar-se “cafés”, denominação que conservam até os dias de hoje na Europa, sobretudo na França e na Itália.
6. Nem todos o tomam... bebendo. O Príncipe Charles da Inglaterra, apaixonado estudioso de ecologia e praticante de terapias médicas alternativas, é usuário de clisteres de café como terapia preventiva contra o câncer. O site Amazon vende kits para que o usuário faça sozinho o seu clister de café.
7. Os artistas gostam de café. O compositor Johann Sebastian Bach gostava tanto de café que até dedicou uma inteira cantata à bebida, a famosa Kaffeekantate, composta em Leipzig, entre 1732 e 1735. Veja vídeo, abaixo, com gravação dessa bela cantata.

8. Os esportistas também gostam. Segundo estudo da Universidade de Queensland, publicado no Journal of Science and Medicine in Sport, os ciclistas que tomam uma xícara de café uma hora antes da corrida ganham em média 2% a mais em termos de velocidade. 

9. Uma variedade quase sem cafeína. Existe uma única variedade de café naturalmente destituído de cafeína: a Coffea charrieriana, originária de Camarões. Todas as demais variedade precisam ser descafeinadas de maneira artificial. Mas é impossível eliminar por completo a cafeína. Segundo estudo da Universidade da Flórida, em cada xícara de café descafeinado existe o equivalente de um quinto a 1 décimo da cafeína contida numa xícara de café expresso normal. 

10. Por que o café servido em alguns lugares é mais forte? Depende da mistura (blend) feita pelos produtores. As duas principais espécies de café, a robusta e a arábica não têm as mesmas características organoléticas. A robusta pode conter até o dobro da cafeína do arábica (que é mais apreciado, por ser menos “forte”). O sabor mais ou menos forte depende em parte também da torração.


Vídeo: Cantata do Café (Kaffeekantate, BWV 211), Johann Sebastian Bach. The Amsterdam Baroque Orchestra & Choir, regência de Ton Koopman.

sexta-feira, junho 06, 2014

Polícia Ambiental e crianças fazem limpeza no Parque Linear em Uberlândia

5/06/2014 19:59
Leonardo Leal Repórter
Uma ação de limpeza no Parque Linear, às margens do rio Uberabinha, foi realizada nesta quinta-feira (5) por militares da 9ª Companhia de Polícia Militar Independente de Meio Ambiente e Trânsito Rodoviário (9ª Cia. PM Ind. MAT), dentro das atividades da Semana do Meio Ambiente. Cerca de 50 pessoas participaram da limpeza, que contou com voluntários do Serviço Social do Transporte (SEST), do Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (SENAT) e crianças atendidas pela Legião da Boa Vontade (LBV). Ao todo foram recolhidos 15 sacos de lixo de 100 litros e dois pneus no parque, que fica entre os bairros Daniel Fonseca, no setor central, e Jaraguá, zona oeste de Uberlândia.
15 sacos de lixos foram recolhidos (Foto: Cleiton Borges)
De acordo com o subcomandante da 9ª Cia. PM Ind. MAT, o 1º Tenente Thiago Andrade Lana, a ação visa prestar um serviço à sociedade e conscientizar da importância de se manter as áreas verdes limpas. “O parque linear é uma área aberta que merece ser bem cuidado”, afirmou. Entre os detritos recolhidos na limpeza estavam papéis, plásticos, maços de cigarro, entre outros.
Entre os voluntários da limpeza, estavam as gêmeas Milena Soares Cunha e Marcela Soares Cunha, de 12 anos, que participam dos programas da LBV. “Me sinto feliz em colaborar com a limpeza do parque e ao mesmo tempo reduzir o acúmulo de lixo no meio ambiente”, disse Marcela Cunha. A gestora social da LBV, Andreia Heloisa Arantes lembrou que a participação das crianças é uma forma de praticar o que elas aprendem nos projetos culturais e educativos da entidade.
A ação coordenada pela PM foi elogiada por frequentadores do parque. A professora aposentada Maria Lopes Ventura disse que a dedicação das crianças em limpar o parque é um exemplo para as outras pessoas.
Domingo tem pedalada ecológica
Uma pedalada ecológica será realizada no domingo (8) pela 9ª Cia. de Polícia do Meio Ambiente e Trânsito da Polícia Militar dentro das atividades da Semana do Meio Ambiente.
Segundo o subcomandante da companhia, o 1º Tenente Thiago Andrade Lana, a concentração será às 8h da manhã, na sede da companhia à rua Varginha, 387, bairro Daniel Fonseca, setor central da cidade. O grupo seguirá da companhia pela avenida Rondon Pacheco até o Center Shopping e voltará ao ponto de concentração.

quinta-feira, maio 29, 2014

Corredores ambientais na RMC aumentam a área preservada de floresta e permitem que animais circulem em segurança

Estagiária Gabriela Troian, sob a orientação de J.G. Alves
Tempo úmido é característico do litoral
Considerada como hotspot mundial, ou seja, uma das áreas mais ricas em biodiversidade e mais ameaçadas no planeta, a Mata Atlântica é, sem dúvidas, o bioma brasileiro mais impactado. Segundo dados da Fundação SOS Mata Atlântica, restam somente 8,5 % da área remanescente de floresta. Hoje, 27 de maio, comemora-se o Dia Nacional da Mata Atlântica, e mesmo em alerta, corredores ambientais dão sobrevida a regiões interioranas.
A maior parte preservada da floresta encontra-se na costa litorânea, mas devido ao terreno acidentado por montanhas e serras, a ocupação é dificultada. A área mais impactada está nas regiões interioranas, onde se encontra cerca de 62% da população brasileira. E além de grande parte dessa área ter sido desmatada (para dar lugar a ocupações urbanas, em sua grande maioria), as características florestais entre o litoral e o interior são diferentes, explica Márcia Rodrigues, analista ambiental do projeto Corredor das Onças, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Márcia Rodrigues, do projeto Corredor das Onças
“Na região da serra do mar, que não está ocupada, não há seca, então as plantas não se impactam tanto como no interior, que apresenta um período de seca mais demarcado e muda a fisionomia das matas. Estas dependem muito mais de animais dispersores para sobreviver”, avalia. E para que a mata continue viva também no interior, Márcia Rodrigues encabeça o projeto do Corredor das Onças. Para tanto, analisou a região da bacia PCJ, que compõem os rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí e seus afluentes, na Região Metropolitana de Campinas (RMC).
Estes estudos identificaram os fragmentos de mata espalhados pela região e que poderiam formar áreas de corredores ambientais. Também se constatou a presença de onças pela RMC. “Ter onças pela região é sinônimo de que há um grande potencial de conservação. Nosso intuito é conectar estes fragmentos para que os animais transitem em segurança”, afirma Rodrigues. Daí a razão destes animais terem-se tornado o símbolo do projeto. Apoio à iniciativa
Roberto Schneider mostra a diferença do antes e depois em sua propriedade: 15 anos de trabalho árduo
Até o momento, foram identificadas 110 propriedades que possuem fragmentos. Juntos, totalizam 34 mil hectares. Márcia Rodrigues explica que a próxima fase do projeto é a de “convencer” os produtores rurais da importância que essas áreas têm para a conservação do bioma. “Ganhamos como aliado o CAR (Cadastro Ambiental Rural) em que os proprietários de terra devem ter áreas florestadas em suas propriedades. Mostramos a importância do plantio, como será o trabalho do corredor e também auxiliaremos com o reflorestamento”, ressalta.
Diante do fato de que 80% das áreas de Mata Atlântica preservada se encontram em áreas particulares e de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs), Mario Mantovani, ambientalista e diretor de Mobilização da Fundação SOS Mata Atlântica, acredita que com as novas regras e prazos o CAR pode se tornar sim um aliado à preservação destas propriedades. Mas faz uma ressalva: “O Cadastro Ambiental Rural pode ajudar na conservação e no reflorestamento se houver um monitoramento eficaz dos governos e municípios”, diz.
Das 110 propriedades identificadas na região, 60 já aderiram ao projeto. Este é o caso do produtor rural Roberto Eduardo Schneider, que desde 1999 possui um sítio de 4,4 hectares, localizado na cidade de Cosmópolis. “Quando cheguei, era tudo um grande pasto. Aí comecei a plantar e hoje vejo tucanosveado-campeiroteiú e muitos pássaros da varanda de minha casa”, aponta a diferença após 15 anos de labuta em suas terras.
Marco Antônio Pacheco segue os passos de outros produtores e aposta na mata viva
Da mesma forma que Schneider, o também produtor rural Marco Antonio Cintra Pacheco reflorestou por conta própria sua propriedade de 11 hectares, herança pelo pai, na cidade de Artur Nogueira. “Não se tinha essa consciência, pois se criava gado. Eu via a nascente descuidada e plantei algumas mudas doadas pela prefeitura e já noto a diferença. Além de muito mais bonito, antigamente se tinha muita enxurrada, agora não tem mais”, conta Pacheco.
A presença de animais e a falta de enxurradas em áreas próximas a rios já são reflexo do reflorestamento e da formação de corredores ambientais, aponta Márcia Rodrigues. “Preservar estas áreas auxilia na circulação da fauna, que transita em segurança. Os animais, como macacos, dispersam as sementes, auxiliando na manutenção das árvores e aumentando a diversidade genética. E, por estar em áreas ligadas a nascentes e rios, a água fornecida à região terá uma qualidade muito melhor”, avalia a analista ambiental.
Marco Antonio Cintra Pacheco pretende reflorestar mais uma parte de sua propriedade, para ligá-la a uma área próxima ao Rio Pirapitingui e, assim, formar um corredor ambiental e aumentar ainda mais a preservação em suas terras. Como ele, os demais produtores contarão com a orientação do projeto e compensação ambiental (onde empresas privadas investem na recuperação de áreas verdes, geralmente em função de provocar algum tipo de degradação por obras realizadas).
Onças são o aval para viabilizar iniciativa
Márcia Rodrigues ressalta que pequenas regiões isoladas não cumprem a função total da preservação, pois para contabilizarem como integrantes do bioma devem ter uma área acima de três hectares. “Um fragmento pequeno não abriga uma população diferenciada, mas se eles se unem, juntos podem aumentar muito mais a diversidade de plantas e animais”, reconhece.

quinta-feira, maio 22, 2014

Tatu-canastra: o engenheiro ambiental indispensável para o ecossistema
por Fábio Paschoal em 25 de outubro de 2013
Tatu-canastra (Priodontes maximus) – Foto: Projeto Tatu-Canastra
Encontrado em quase toda a América do Sul, o tatu-canastra é o maior membro de sua família (Dasypodidae). É um animal robusto, dotado de enormes garras que servem para cavar buracos em busca de formigas e cupins. Seu corpo é coberto por uma carapaça coriácea que o protege contra predadores. Pode pesar até 50 quilos e chega a medir 1,5 metro de comprimento (incluindo a cauda).
Apesar de seu tamanho e de sua grande área de distribuição é um animal raro de ser observado. A espécie é visada por caçadores e o desmatamento está destruindo o seu habitat. Além disso, passa a maior parte do tempo embaixo da terra. Há quem diga que é uma criatura mitológica, outros acreditam que não exista mais. Hoje se encontra na categoria vulnerável da lista vermelha de animais ameaçados de extinção da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza, na sigla em inglês), mas oprojeto Tatu Canastra, uma iniciativa do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) e da Royal Zoological Society of Scotland, está tentando mudar essa história.
Um estudo realizado por Arnaud Desbiez, biólogo e coordenador do projeto, e pelo médico veterinário Danilo Kluyber,  revelou que o tatu-canastra altera o ambiente, muda a disponibilidade de recursos para outras espécies e, por isso, é considerado um engenheiro do ecossistema indispensável para o meio ambiente.
Jaguatirica na toca do tatu-canastra – Foto: Projeto Tatu-Canastra
O animal cava túneis para dormir ou procurar comida. As tocas podem atingir 5 metros de profundidade e 35 centímetros de largura. Esses buracos são utilizados por outros animais como refúgio térmico, abrigo contra predadores e área de alimentação e descanso. Pelo menos 24 espécies de vertebrados se beneficiam dos novos habitats criados pelos canastras.
A pesquisa também indica que as tocas podem ser importantes aliadas dos animais contra o aquecimento global. A temperatura do interior dos buracos se mantém constante em 24°C. “Com as mudanças climáticas e a tendência das temperaturas aumentarem, as tocas de tatu-canastra podem ajudar as espécies a sobreviverem a essas mudanças e temperaturas extremas”, diz Desbiez.
Os gigantes encouraçados são extremamente importantes para a manutenção de um ecossistema saudável e sua extinção causaria um desequilíbrio nos habitats onde são encontrados. Assim, o Projeto Tatu Canastra segue com as pesquisas e luta pela conservação da espécie.


Arnaud Desbiez (esquerda) e Danilo Kluyber (direita) – Foto: Projeto Tatu-Canastra
Quatis procuram por comida no monte de terra deixado pelo tatu-canastra na entrada da toca – Foto: Projeto Tatu-Canastra
Lobinho dormindo em toca de tatu-canastra – Foto: Projeto Tatu-Canastra
Cutia saindo de uma toca de tatu-canastra – Foto: Projeto Tatu-Canastra
Cateto entrando na toca do tatu-canastra – Foto: Projeto Tatu-Canastra
O tamanduá-mirim também usa os túneis feitos pelo tatu-canastra – Foto: Projeto Tatu-Canastra
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quinta-feira, maio 08, 2014

O que o Fuleco fez pelo tatu-bola?
Mascote da Copa de 2014 é espécie encontrada apenas no Brasil, mas até agora, não se beneficiou com o título

Estagiária Gabriela Troian sob a orientação de Valéria Forner
Formato da carapaça do tatu-bola facilita a caça predatória

Para chegar ao posto de mascote da Copa do Mundo de 2014, o tatu-bola (Tolypeutes tricinctus) enfrentou uma disputa com a onça-pintada, a arara-azul e o jacaré. Das 11 espécies de tatu que ocorrem no Brasil, é a única endêmica. A situação do tatu-bola, ameaçado de extinção, não melhorou desde setembro do ano passado, quando houve a eleição da mascote. As áreas onde a espécie ocorre continuam sendo desmatadas, comprometendo, assim, a sobrevivência do animal.
Espécie é a única endêmica de tatus no Brasil
Ao apresentar o tatu-bola como candidato a mascote aos membros da Federação Internacional de Futebol (Fifa), a Associação Caatinga, organização não governamental, fez uma lista de justificativas. Entre elas se destaca o fato de o tatu-bola ser espécie que existe apenas no Brasil, nas áreas de Caatinga e Cerrado, e estar ameaçada de extinção. Outra característica é o formato de bola que o animal assume, quando se sente ameaçado.
Desde a escolha da mascote, aumentou a visibilidade para o projeto “Tatu-bola: Marcando um gol pela sustentabilidade”. No entanto, não foram desenvolvidas medidas de preservação. Biólogo da Associação Caatinga, Rodrigo Castro afirma que ainda há muitas pessoas que não associam o Fuleco, nome dado à mascote, ao tatu-bola, e desconhecem o risco de a espécie desaparecer.
                                          Rodrigo Castro luta pela preservação na Caatinga
O personagem Fuleco é facilmente encontrado em comerciais, sites e até em álbuns de figurinhas. Mas e o tatu-bola de verdade? Diferentemente da mascote, refugia-se em áreas bem preservadas que ainda restam no País, como a RPPN Serra da Alma, entre as cidades de Crateus (CE) e Buriti dos Montes (PI). A presença do Tolypeutes tricinctos, vale dizer, sinaliza a boa saúde dos biomas.Tamanha importância motivou a Fifa a agregar a palavra “futebol” à “ecologia”. Por isso o nome Fuleco. Rodrigo Castro afirma que durante reuniões realizadas com o comitê organizador do evento esportivo e o Ministério do Meio Ambiente, não houve apelo maior para conscientizar as pessoas sobre a possibilidade de extinção. “O tatu-bola deu vida ao Fuleco, mas o que ele realmente fez pelo tatu-bola? O compromisso de preservação termina justamente no nome”, observa o biólogo.
Entre os dias 12 e 16 de maio será desenvolvida uma oficina de elaboração do Plano de Ação Nacional (PAN) de conservação do Tatu-bola, iniciativa do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e da Associação Caatinga. Com a participação de pesquisadores, o PAN tem a proposta de traçar metas para a preservação da espécie pelos próximos cinco anos. O sumário deve ser concluído até o final da Copa, em julho.