Após 20 anos,
presença do raro gavião-real é registrada em São Paulo; ouça. FERNANDO TADEU
MORAES
DE SÃO PAULO 28/09/2017 02h00
DE SÃO PAULO 28/09/2017 02h00
Gavião-real,
também conhecido como harpia, se aproxima de ninho em Alta Floresta, no Mato
Grosso. A presença de um gavião-real, uma das maiores aves de rapina do mundo,
foi documentada no Estado de São Paulo pela primeira vez em ao menos 20 anos.
O canto da harpia –a
outra denominação do pássaro–, foi registrado pelo biólogo Bruno Lima em 2012,
na região do rio Preto, em Itanhaém, e depositado na semana passada na
plataforma Wikiaves, fórum utilizado para divulgação prévia de resultados da
área.
O artigo em que é
descrito o raro achado acaba de ser enviado para a revista científica
"Atualidades Ornitológicas" e aguarda a aceitação. Mas especialistas
que ouviram o áudio a pedido da Folha creem que se trata mesmo
de uma harpia, animal considerado criticamente ameaçado em SP.
Para Felipe Bittioli
Gomes, professor da Universidade Federal do Pará, não há dúvida de que se trata
do canto de um gavião-real. "É um registro indiscutível. Dentre os vários
tipos de canto do gavião-real, o mais característico é o territorial,
justamente o que foi registrado."
Tânia Sanaiotti,
pesquisadora do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e
coordenadora do Projeto Harpia, é um pouco mais cautelosa. "Ele de fato parece
o canto de uma harpia, embora seja curto."
Já o biólogo Marco
Antonio Granzinolli, especialista em aves de rapina, é enfático: "É o
canto de uma harpia".
Além disso, entre os
20 comentários no Wikiaves a respeito do áudio registrado por Lima, não há
nenhuma contestação de sua veracidade.
Embora avistamentos
de harpias tenham sido reportados em São Paulo nos últimos anos, os registros
documentados são raros. Os últimos são de um espécime capturado supostamente no
início dos anos 1970, pertencente ao museu de zoologia da Unesp de São José do
Rio Preto, e outro, realizado em 1993, no município de Cananeia, no litoral
paulista.
"É um registro
bastante importante", diz Sanaiotti, "e só reforça a urgência de
proteção dessa espécie." A especialista em ecologia de aves Martha Argel
afirma que se trata de um achado relevante, já que a harpia pode ter
desaparecido da maior parte de São Paulo.
Argel explica ainda
que, na ornitologia, registros sonoros são equivalentes aos fotográficos.
"Algumas espécies são até mais registradas pela voz do que por
fotografias."
A harpia habita
sobretudo a Amazônia e é considerada a ave mais poderosa do mundo devido ao seu
incrível poder de tração, que lhe possibilita, por exemplo, arrancar um
bicho-preguiça de uma árvore.
É, ademais, aquilo
que na ecologia é chamado de um predador de topo de cadeia, ou seja, tem no seu
habitat a mesma importância que uma onça ou um tubarão têm em seus respectivos
ecossistemas.
"A presença de
uma harpia indica que o ambiente está equilibrado, pois um predador de topo só
irá existir se a floresta estiver saudável e conseguir sustentar as presas. Ou
seja, se contiver todos os elementos biológicos para a manutenção do
ecossistema como um todo ", diz Gomes.
Estima-se que um
casal da espécie necessite de uma área de ao menos 100 km2 para
sobreviver.
TERMELÉTRICA
Em outubro de 2012,
Lima caminhava numa trilha na mata de Itanhaém quando ouviu uma gralha-azul
cerca de 25 metros acima de sua cabeça. "Ela fazia um chamado de alarme,
como se houvesse algum predador por perto."
"Escutei então o
grito inconfundível de uma ave de rapina. Liguei o gravador e vi a cabeça da
harpia em meio à folhagem de uma árvore."
Lima conta que
guardou o registro por cinco anos por receio de que a divulgação pudesse
ameaçar a vida da ave. "Anteriormente, quando divulguei a existência dos
papagaios-de-cara-roxa, que poucos sabiam existir naquela área, queimaram o
ninho com os filhotes dentro dele. Fiquei com medo de que o mesmo pudesse
acontecer à harpia."
A motivação para a
publicação do registro agora é a possibilidade de um complexo
termelétrico ser instalado em Peruíbe, segundo explica Lima. De
acordo com o projeto –em processo de licenciamento ambiental–, torres de
transmissão passarão pela região onde a harpia foi encontrada.
"Se as torres
forem instaladas, há um risco enorme de que essa ave, que há décadas não víamos
em SP, morra ao colidir com elas, como ocorre com os Tuiuiús no Pantanal."
Procurada, a
Gastrading, empresa responsável pelo empreendimento, diz que o Estudo de
Impacto Ambiental aponta o potencial impacto sobre as aves da região devido ao
aumento do risco de colisão com as torres e cabos.
Devido a isso, foram
propostas "medidas de controle e monitoramento, considerando a implantação
de sinalizadores nos cabos da linha de transmissão, a diminuição da distância
entre cabos, o que minimiza o risco de colisão, além de monitoramento de
potenciais acidentes".
O GAVIÃO-REAL
HABITAT
Vive em florestas de planície e altitudes de até 2.000 m acima do nível do mar
Vive em florestas de planície e altitudes de até 2.000 m acima do nível do mar
DISTRIBUIÇÃO
Pode ser encontrada na região amazônica e em alguns pequenos trechos da mata atlântica, especialmente no sul da Bahia e no norte do Espírito Santo
Pode ser encontrada na região amazônica e em alguns pequenos trechos da mata atlântica, especialmente no sul da Bahia e no norte do Espírito Santo
TAMANHO
Mede de 90 a 105 cm de comprimento e pode atingir até 2 metros de envergadura
Mede de 90 a 105 cm de comprimento e pode atingir até 2 metros de envergadura
PESO
Machos pesam de 4 kg a 5 kg, e fêmeas de 7,6 kg a 9 kg
Machos pesam de 4 kg a 5 kg, e fêmeas de 7,6 kg a 9 kg
ALIMENTAÇÃO
É constituída principalmente de mamíferos como preguiças, veados, quatis e tatus. Também captura aves como seriemas e araras. Suas garras de até 7 cm permitem ao gavião-real capturar presas com mais de 6 kg
É constituída principalmente de mamíferos como preguiças, veados, quatis e tatus. Também captura aves como seriemas e araras. Suas garras de até 7 cm permitem ao gavião-real capturar presas com mais de 6 kg
REPRODUÇÃO
É monogâmico e constrói o ninho em formato de plataforma no alto de árvores
É monogâmico e constrói o ninho em formato de plataforma no alto de árvores
STATUS
DE PRESERVAÇÃO
A espécie é considerada criticamente ameaçada em toda a região Sul e nos nos Estados de SP, MG, ES
A espécie é considerada criticamente ameaçada em toda a região Sul e nos nos Estados de SP, MG, ES
Fonte: Aves de Rapina
Brasil
Ouça
o canto do gavião-real registrado pelo biólogo Bruno Lima. http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2017/09/1922385-apos-20-anos-presenca-do-raro-gaviao-real-e-registrada-em-sp.shtml.
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