Uberlândia, uma cidade internacional?
Por: João Pedro Gurgel e Silva
Publicado em 10/06/2020 às 14:30 - Atualizado em 22/08/2023 às 16:52
Salvo raras e louváveis
exceções, quando pensamos em cidades internacionais, não nos escapam à memória
cidades como Nova York, Londres, Paris ou mesmo São Paulo. Porém, não somente
às megalópoles estão abertas as portas do mundo, explicam as obras de Panayotis
Soldatos.
Para o europeu, além do intercâmbio comercial, cidades
internacionais são aquelas que contam com uma multiplicidade de canais de
comunicação com o exterior, com destaque à presença de suas instituições, ao
exercício de sua paradiplomacia pública e à composição étnica de sua população.
Diante dos desafios de um mundo globalizado e de constante
inovação, os planos de política externa de uma cidade tornam-se peças centrais
na concretização e na cooperação das ações públicas e privadas, de curto a
longo prazo. Assim, dirigem-se para a execução de grandes projetos que combinem
objetivos de crescimento econômico e de desenvolvimento urbano a partir da
internacionalização das suas relações municipais.
A política externa de uma cidade antecede as ações dos poderes
instituídos que se incubem da paradiplomacia, implementando a parte que lhes
cabem de um projeto maior, partilhado por uma pletora de atores locais.
Apesar da inexistência de um marco regulatório, as atuações
internacionais de cidades brasileiras estão assentadas nos princípios da
predominância do interesse e da subsidiariedade pactuados entre os entes
federativos. Sendo assim, suas relações internacionais representam a
externalização de suas competências e são contidas pela Diplomacia do Itamaraty,
como elucidam os artigos 4, 23, 54 e 84 da Constituição Federal vigente.
Porto Alegre, Paraty, Petrolina… são muitas as cidades
brasileiras internacionalmente reconhecidas por desenvolverem projetos de
cooperação, de captação de recursos, de promoção econômica direcionadas para o
fomento do comércio exterior, de investimentos, do turismo e de setores
estratégicos; ou mesmo pelo papel desempenhado em relevantes discussões
internacionais, como no Programa Internacional de Cooperação Urbana da União
Europeia para a América Latina e o Caribe, na Localização dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável e no Acordo de Paris.
Uberlândia
Desde o final do último século, Uberlândia se diferencia ao
comportar uma série de investimentos para a produção de uma localização
privilegiada, no afã da incorporação produtiva dos cerrados e na conformação de
uma agroindústria comercial e de exportação na região - simbolizados pela
construção da universidade federal e do porto seco.
O entreposto da Zona Franca de Manaus, a partir de 2010, marca a
crescente irradiação do dinamismo econômico e a consolidação da estratégia
logística da cidade com infraestrutura e transporte multimodal, para
distribuição e acesso aos principais mercados nacionais, ao Mercosul e ao mundo.
Reconhecida pela ONU como uma das cinco cidades no mundo com
população entre 500 mil e 1 milhão de habitantes com qualidade de vida e
sustentabilidade, na última década, Uberlândia se tornou também um dos
maiores centros brasileiros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e
referência em tecnologias da informação e comunicação, ocupando, então, a
posição de primeira cidade do interior em número de startups.
A Política Externa contemporânea de Uberlândia começa, de fato,
quando são definidas as metas e prioridades da administração Odelmo Leão, do
Partido Progressistas (PP), sancionadas pelo legislativo local, com a
incorporação da dimensão internacional ao poder executivo, a partir dos
programas “Desenvolvimento Econômico, Emprego, Renda e Internacionalização”,
“Uberlândia - Destino Inteligente e Humano” e “Uberlândia Inovadora”, sob
alçada da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Turismo
que recebeu, entre 2017-2019, cerca de R$ 6 milhões do orçamento municipal para
a implementação de atividades de incentivo à infraestrutura e ao ‘ecossistema’
de inovação, à aplicação de tecnologias de smart cities e de apoio à micro e
pequenas empresas.
Todavia, as cooperações, os recursos e até a inserção comercial
internacional, carecem de capacidades técnicas especializadas, exigindo do
internacionalista competências para a análise, elaboração e operacionalização
das relações internacionais municipais. O Grupo de Extensão Uberlândia no
Contexto Internacional (GEUCI/UFU), ao receber graduandos e pós-graduandos
vinculados ao Instituto de Economia e Relações Internacionais (IERI/UFU),
busca, na integração entre atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão,
satisfazer tal demanda, monitorando e auxiliando a internacionalização de
Uberlândia para a promoção do desenvolvimento regional.
*João Pedro Gurgel e Silva é discente do Curso de Relações
Internacionais do IERI/UFU, pesquisador voluntário Pivic/PROPP/UFU e
coordenador discente do GEUCI/IERI. Disponível para contato em: lattes.cnpq.br/055086622373006, joao.gurgel@ufu.b e linkedin.com/in/jpgurgelsilv. Esse
artigo apresentado na Semana de
Internacionalização INTERUFU 2019 - Faculdade de Gestão e Negócios (Fagen/UFU)
e na XI Semana Acadêmica de Relações Internacionais (SARI), do Instituto de
Economia e Relações Internacionais (IERI/UFU).
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