'Beefalo': o híbrido de vaca e bisão que ameaça o Grand Canyon
3 março 2015
Comportamento
considerado "destrutivo" dos 'beefalos' vem causando danos à
conhecida reserva natural dos Estados Unidos
Uma estranha criatura híbrida, resultado de uma tentativa
fracassada de se criar uma raça metade vaca metade bisão no início do século
20, está causando estragos no Grand Canyon, no sudoeste dos Estados Unidos.
Apelidados
de "beefalo", esses animais ─ que atualmente vivem soltos ─ estão se
provando uma dor de cabeça tanto para ambientalistas quanto para grupos
indígenas, que querem exterminá-los.
Também
despertam tanta curiosidade que alguns turistas vêm colocando suas vidas em
risco apenas por uma oportunidade para observá-los.
O
problema está em seu comportamento considerado "destrutivo": bebem
muita água, comem vorazmente, destroem o solo e a vegetação por onde passam.
Estima-se que, na área da reserva natural conhecida como North Rim,
vivam cerca de 600 animais dessa espécie.
De acordo com ambientalistas, o "beefalo" pode consumir até 45
litros de água por dia, o que significa que uma manada inteira pode colaborar
para baixar consideravelmente o nível de água de um córrego em poucas horas.
Mas esse não é o único dano ambiental que esses animais causam. Também
defecam em fontes de água potável e seu peso compacta o solo.
O apetite voraz e o hábito de tomar "banhos de poeira" deixam
a terra sem nutrientes, explicam ambientalistas.
Além disso, à medida que sua população cresce, outros animais são
obrigados a deixar o local, fazendo com que o ecossistema perca seu equilíbrio
natural, acrescentam.
Insetos e plantas exóticas também são afetados com essa mudança.
Destruição
Grand Canyon é
considerado uma das sete maravilhas naturais do mundo
Martha Hahn, coordenadora de recursos naturais do Parque Nacional do
Grand Canyon, levou a reportagem da BBC a um dos lagos (são sete no total),
onde os danos são evidentes.
"Entre 200 e 300 beefalos bebem desta fonte de água e podem acabar
com ela muito rapidamente", diz ela.
"Cerca de 80% das nossas plantas e outras espécies dependem de
recursos hídricos limitados. Há, no total, provavelmente sete lagos como este
no parque e em áreas adjacentes. Sem água, outras espécies serão
afetadas", explica ela.
Em um de seus experimentos, Tom Sisk, professor de ciência e política
ambiental da Universidade do Norte do Arizona, cercou metade da área de
pastagem para estudar os efeitos, mas os "beefalos" a destruíram.
À primeira vista, o potencial destrutivo de uma manada de 600 animais
não parece significativo se considerada a extensão do Grand Canyon, mas o
impacto dessa espécie se concentra, na verdade, em áreas mais sensíveis.
Os "beefalos" destruíram ruínas de pedra do local, que até
hoje é considerado sagrado para muitos grupos indígenas.
População em alta
Logo no início da visita, a reportagem da BBC presenciou centenas desses
animais na entrada do parque, ao lado da estrada.
"É incrível. Sinceramente nunca vi tantos juntos em todos os anos
que eu trabalhei aqui", disse Sisk.
"Há alguns anos, era comum ouvir histórias sobre o bisão fantasma
do Grand Canyon. Por muito tempo, muita gente veio aqui para observar essa
criatura. O que estamos vendo agora é um aumento dramático da população de um
animal real e potencialmente destrutivo”.
Muitos turistas param para tirar fotos e alguns correm mais riscos do
que outros.
"Um acidente ocorre, em média, por dia", diz Hahn. "Se um
carro acaba parado entre um bezerro e sua mãe, ela ataca o veículo".
Experiência malsucedida
'Beefalos' vêm
causando grandes estragos ambientais no Parque Nacional do Grand Canyon, nos
Estados Unidos
A criação dos "beefalos" partiu de um homem chamado Charles
"Buffalo" Jones, em 1906.
Naquela época, a população de búfalos - um animal icônico nos Estados
Unidos – estava em queda. Jones cruzou, então, os bisões com vacas domésticas
para produzir um animal forte, que pudesse ser comercializado.
Quando ele abandonou a ideia, os animais ficaram a cargo dos
proprietários dos ranchos onde a espécie era criada. Para controlar o
crescimento da população, autoridades locais entregaram licenças de caça
limitadas.
Tudo parecia transcorrer sem problemas até o momento em que os
"beefalos" entraram no Parque Nacional, onde a caça é proibida e não
existem predadores naturais.
O resultado foi um aumento no número desses animais da ordem de 50% ao
ano.
Os "beefalos" também se aventuram fora do parque, mas fora da
temporada de caça. Hahn acredita que os animais aprenderam a determinar quando
o período começa e termina.
Medidas
Por ora, as autoridades locais estão discutindo a melhor maneira sobre o
que fazer com os "beefalos".
Enquanto alguns caçadores defendem a ideia de permitir matar os animais,
grupos indígenas se opõem à prática por condenarem a morte por esporte.
As opções incluem métodos letais e não-letais, como cercá-los ou dar
contraceptivos aos animais.
Mas até o momento, nenhuma das iniciativas se provou bem-sucedida.
Entre as alternativas para reduzir os estragos causados pelos beefalos,
houve até quem sugerisse que os indígenas "adotassem" os bisões como
animais domésticos, algo que já faz parte de sua tradição cultural.
No entanto, nenhuma ação será implementada até o próximo ano.
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