Corredores
ambientais na RMC aumentam a área preservada de floresta e permitem que animais
circulem em segurança
Estagiária
Gabriela Troian, sob a orientação de J.G. Alves
Tempo úmido é característico do
litoral
Considerada
como hotspot mundial, ou seja, uma das áreas mais ricas em biodiversidade e
mais ameaçadas no planeta, a Mata Atlântica é, sem dúvidas,
o bioma brasileiro mais impactado. Segundo dados da Fundação SOS Mata
Atlântica, restam somente 8,5 % da área remanescente de floresta. Hoje, 27 de
maio, comemora-se o Dia Nacional da Mata Atlântica, e mesmo em alerta,
corredores ambientais dão sobrevida a regiões interioranas.
A maior parte
preservada da floresta encontra-se na costa litorânea, mas devido ao terreno
acidentado por montanhas e serras, a ocupação é dificultada. A área mais
impactada está nas regiões interioranas, onde se encontra cerca de 62% da
população brasileira. E além de
grande parte dessa área ter sido desmatada (para dar lugar a ocupações urbanas,
em sua grande maioria), as características florestais entre o litoral e o
interior são diferentes, explica Márcia Rodrigues, analista ambiental do
projeto Corredor das Onças, do Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio).
Márcia Rodrigues, do projeto Corredor
das Onças
“Na região da
serra do mar, que não está ocupada, não há seca, então as plantas não se
impactam tanto como no interior, que apresenta um período de seca mais
demarcado e muda a fisionomia das matas. Estas dependem muito mais de animais
dispersores para sobreviver”, avalia. E para que a
mata continue viva também no interior, Márcia Rodrigues encabeça o projeto do
Corredor das Onças. Para tanto, analisou a região da bacia PCJ, que compõem os
rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí e seus afluentes, na Região Metropolitana
de Campinas (RMC).
Estes estudos
identificaram os fragmentos de mata espalhados pela região e que poderiam
formar áreas de corredores ambientais. Também se constatou a presença de onças
pela RMC. “Ter onças pela região é sinônimo de que há um grande potencial de
conservação. Nosso intuito é conectar estes fragmentos para que os animais
transitem em segurança”, afirma Rodrigues. Daí a razão destes animais terem-se
tornado o símbolo do projeto. Apoio à iniciativa
Roberto Schneider mostra a diferença
do antes e depois em sua propriedade: 15 anos de trabalho árduo
Até o momento,
foram identificadas 110 propriedades que possuem fragmentos. Juntos, totalizam
34 mil hectares. Márcia Rodrigues explica que a próxima fase do projeto é a de
“convencer” os produtores rurais da importância que essas áreas têm para a
conservação do bioma. “Ganhamos como aliado o CAR (Cadastro Ambiental Rural) em
que os proprietários de terra devem ter áreas florestadas em suas propriedades.
Mostramos a importância do plantio, como será o trabalho do corredor e também
auxiliaremos com o reflorestamento”, ressalta.
Diante do fato
de que 80% das áreas de Mata Atlântica preservada se encontram em áreas
particulares e de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs), Mario
Mantovani, ambientalista e diretor de Mobilização da Fundação SOS Mata
Atlântica, acredita que com as novas regras e prazos o CAR pode se tornar sim um
aliado à preservação destas propriedades. Mas faz uma ressalva: “O Cadastro
Ambiental Rural pode ajudar na conservação e no reflorestamento se houver um
monitoramento eficaz dos governos e municípios”, diz.
Das 110
propriedades identificadas na região, 60 já aderiram ao projeto. Este é o caso
do produtor rural Roberto Eduardo Schneider, que desde 1999 possui um sítio de
4,4 hectares, localizado na cidade de Cosmópolis. “Quando cheguei, era tudo um
grande pasto. Aí comecei a plantar e hoje vejo tucanos, veado-campeiro, teiú e muitos pássaros da varanda de minha casa”, aponta a diferença
após 15 anos de labuta em suas terras.
Marco Antônio Pacheco segue os passos
de outros produtores e aposta na mata viva
Da mesma forma
que Schneider, o também produtor rural Marco Antonio Cintra Pacheco reflorestou
por conta própria sua propriedade de 11 hectares, herança pelo pai, na cidade
de Artur Nogueira. “Não se tinha essa consciência, pois se criava gado. Eu via
a nascente descuidada e plantei algumas mudas doadas pela prefeitura e já noto
a diferença. Além de muito mais bonito, antigamente se tinha muita enxurrada,
agora não tem mais”, conta Pacheco.
A presença de
animais e a falta de enxurradas em áreas próximas a rios já são reflexo do
reflorestamento e da formação de corredores ambientais, aponta Márcia
Rodrigues. “Preservar estas áreas auxilia na circulação da fauna, que transita
em segurança. Os animais, como macacos, dispersam as sementes, auxiliando na
manutenção das árvores e aumentando a diversidade genética. E, por estar em
áreas ligadas a nascentes e rios, a água fornecida à região terá uma qualidade
muito melhor”, avalia a analista ambiental.
Marco Antonio
Cintra Pacheco pretende reflorestar mais uma parte de sua propriedade, para
ligá-la a uma área próxima ao Rio Pirapitingui e, assim, formar um corredor
ambiental e aumentar ainda mais a preservação em suas terras. Como ele, os
demais produtores contarão com a orientação do projeto e compensação ambiental
(onde empresas privadas investem na recuperação de áreas verdes, geralmente em
função de provocar algum tipo de degradação por obras realizadas).
Onças são o aval para viabilizar
iniciativa
Márcia
Rodrigues ressalta que pequenas regiões isoladas não cumprem a função total da
preservação, pois para contabilizarem como integrantes do bioma devem ter uma
área acima de três hectares. “Um fragmento pequeno não abriga uma população
diferenciada, mas se eles se unem, juntos podem aumentar muito mais a
diversidade de plantas e animais”, reconhece.