Madeira
manchada de sangue
Notícia - 21 - nov - 2017
Acusado de ser o mandante
do massacre de Colniza, Valdelir João de Souza segue foragido da justiça, o que
não o impede de negociar madeira amazônicahttp://www.greenpeace.org/brasil/pt/Noticias/Madeira-manchada-de-sangue/?utm_campaign=Chega%20de%20Madeira%20Ilegal&utm_content=63494669&utm_medium=social&utm_source=googleplus
Para homenagear as
vítimas da violência no campo na Amazônia, o Greenpeace colocou 251 cruzes em
frente ao Congresso Nacional – número de pessoas assassinadas no bioma entre
2007 e 2016 – para sinalizar que a violência contra a floresta e seus povos
começa exatamente em Brasília. (Foto: © Lucas Sobral / Greenpeace)
No fim de semana do dia 19 de
abril de 2017, quatro homens armados com facas, facões, revólveres e
espingardas entraram em um ramal do Distrito de Taquaruçu do Norte, zona rural
de Colniza, no Mato Grosso, com o objetivo de matar e aterrorizar a população
local. O grupo de extermínio, conhecido como “Os Encapuzados”, percorreu cerca
de dez quilômetros promovendo execuções e tortura. Ao todo, nove pessoas foram
mortas.
Segundo
denúncia do Ministério Público do Estado do Mato Grosso (MPE-MT), o ataque, que
ficou conhecido como “massacre de Colniza”, foi motivado pela cobiça de
madeireiros e grileiros pelos recursos existentes na região de Taquaruçú do
Norte, distrito do município de Colniza.
Apontado
pelo MPE-MT como o mandante do crime, Valdelir João de Souza, conhecido como
“Polaco Marceneiro”, é proprietário das empresas Madeireira Cedroarana e G.A.
Madeiras, responsável pelo Plano de Manejo Florestal localizado ao lado do
local da chacina. A motivação do crime estaria na existência de espécies
valiosas, como o ipê, jatobá e massaranduba, amplamente utilizados para
construção de decks e móveis de alto valor comercial, na área de floresta em
que viviam os agricultores assassinados.
Souza
está foragido, mas suas madeireiras continuam funcionando normalmente,
processando madeira que depois é vendida no mercado nacional e internacional.
Uma investigação do Greenpeace publicada no relatório “Madeira manchada de
sangue” mostrou que, de maio a agosto de 2017, a madeireira Cedroarana enviou
sete remessas de madeira para os Estados Unidos. No dia em que ocorreu a
chacina em Colniza, essa mesma empresa embarcou cargas de madeira para os
Estados Unidos e Europa. Em 2016 e 2017, exportou milhares de metros cúbicos de
madeira amazônica para países como os Estados Unidos, Alemanha, França, Holanda
e Portugal.
Graças a facilidade de fraudar
os sistemas de licenciamento e controle de madeira no Brasil, cenas como as do
“massacre de Colniza” estão se tornando cada vez mais comuns, especialmente na
Amazônia, onde os conflitos no campo são frequentemente ligados à madeira
ilegal. A pressão exercida pela indústria madeireira e pela grilagem de terras
vem ameaçando as florestas da região e colocando populações rurais e
tradicionais sob ameaça. São inúmeros relatos de execuções com requintes de
crueldade, tentativas de assassinato e intimidação, o que gera um clima de
tensão e medo na vida das pessoas que defendem a floresta.
Como
afirma a extrativista Giselda Pereira Ramos Pilker, moradora da Resex
Massaranduba, que fica em Rondônia, região que sofre com a violência promovida
pela madeira ilegal, as ameaças constantes acabam mudando a rotina de todos que
dependem da floresta: “Eu tenho orgulho de cuidar disso tudo. Tenho certeza de
que não é meu, que pertence a um bem muito maior, de bilhões de pessoas. E vou
lutar com todas as minhas forças até alguém me escutar”, diz.
Madeira ilegal e violência
Estados
como Pará, Mato Grosso e Rondônia são responsáveis por mais de 85% da produção
de madeira serrada na Amazônia. Se existisse um plano nacional de apoio ao
manejo comunitário, a exploração madeireira poderia servir como fonte de renda
para as populações da floresta e um meio de mantê-las na terra, em segurança,
protegendo a floresta. Mas não é o que acontece. Estudos apontam que parte da
madeira que entra no mercado foi explorada de áreas onde a extração não é
permitida, como Unidades de Consevação de proteção integral , Territórios
indígenas e áreas de manejo extrativista. Quando populações tradicionais e
indígenas oferecem oposição ao roubo de madeira, acabam colocando-se na mira da
violência, entre a floresta e os criminosos.
“A impunidade para este
tipo de crime e a falta de seriedade do Estado em combater a ação de
madeireiros ilegais criam um ambiente propício para que a ilegalidade
prospere”, afirma Rômulo Batista, da campanha Amazônia do Greenpeace. “Diante
desse cenário, fica impossível confiar na procedência da madeira brasileira,
pois a cadeia está toda contaminada”, completa.
O
relatório “Madeira Manchada de Sangue” faz parte da campanha Chega de Madeira
Ilegal do Greenpeace, que desde 2014 investiga, denuncia e expõe casos de
fraudes em nos sistemas de licenciamento e controle de madeira do Brasil.
“Infelizmente, o Brasil ainda não avançou. Não temos sistemas integrados de
licenciamento e controle da cadeia produtiva de madeira e planos de manejo com
indícios de irregularidades continuam ativos. Até que consigamos como sociedade
mudar isso, os povos que estão na linha de frente pela proteção das florestas
continuarão a sofrer as consequências diretas e o restante do mundo as
indiretas”, diz Batista.
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