Chimpanzés infectados por laboratório de NY
'colonizam' ilhas africanas
Ben Garrod
Biólogo
da Universidade Anglia Ruskin 26/09/2016 09h53
Os chimpanzés foram abandonados com
poucas chances de se alimentarem sozinhos
Em 1974, o banco de
sangue americano New York Blood Centre (NYBC) decidiu criar na Libéria, oeste
africano, o Vilab II - um grande laboratório a céu aberto para experimentos com
diversos tipos de vírus em chimpanzés silvestres. Os primatas foram infectados deliberadamente com doenças como a
hepatite, para que vacinas fossem desenvolvidas.
Trinta e um anos mais tarde, quando
anunciou o fim dos experimentos, o diretor do Viral II, Alfred Prince,
assegurou que o NYBC iria cuidar do bem-estar dos primatas pelo resto de suas vidas.
Pelo fato de estarem infectados, os
chimpanzés foram levados para seis ilhas fluviais. Lá, ao custo de US$ 20 mil
mensais, os animais recebiam água e comida e cuidados para uma
"aposentadoria feliz".
Porém, em março de
2015, o NYBC cancelou toda a ajuda, deixando 85 chimpanzés abandonados à
própria sorte. Era impossível que escapassem, pois esses
primatas não são bons nadadores.
Tecnicalidade

Tecnicamente, o governo da Libéria é
o dono dos animais, mas os cuidados diários e experiências eram de
responsabilidade do NYBC. Esse detalhe legal permitiu que o banco de sangue se
distanciasse do problema.
Em um
comunicado divulgado poucos meses após o fechamento do laboratório, o NYBC
disse que "nunca teve obrigação alguma de cuidar dos animais". O comunicado dizia ainda que "já não era sustentável desviar
milhões de dólares de nossa missão de salvar vidas".
Este posicionamento provocou fúria de
ativistas dos direitos animais.
"O banco de
sangue abandonou os chimpanzés na Libéria no pior momento possível, quando o
país estava em meio ao surto do vírus ebola", criticou, por meio de uma
porta-voz, a ONG americana The Humane Society.
"Vale a pena mencionar que o foi
a utilização de chimpanzés que possibilitou ao centro desenvolver vacinas e
outros tratamentos ao longo de décadas".
Resgate
Mas esta não é uma discussão sobre
questões éticas ligadas ao uso de animais para testes médicos. Ninguém poderia
argumentar que esses animais não merecem água ou comida.
Como primatologista, estou
interessado em como se pode cuidar de um grupo de animais de laboratório,
criado em um ambiente semissilvestre e portador de doenças que oferecem riscos
tanto para outros animais como para seres humanos.
Para resolver esse dilema, a
especialista em grandes primatas Jenny Desmond e seu marido, o veterinário Jim
Desmond, viajaram no final de 2015 ao país africano, financiados pela The Humane
Society, para coordernar a assistência aos chimpanzés.
Eles lideraram um pequeno grupo de
pessoas que agora se ocupa dos primatas. Recentemente, falei com os Desmond e
eles me contaram que a população de chimpanzés está crescendo - 11 novos teriam
nascido desde 2006 por causa da falta de controle de natalidade.
Jenny disse estimar que 30 dos
adultos levados para a ilha em 2005 tinham morrido. Um grande problema é que
não é possível reintroduzir esses animais à vida silvestre, pois eles poderiam
infectar outros bichos.
"Não sabemos qual chimpanzé está
inoculado com qual doença", diz ela.
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