terça-feira, outubro 14, 2014

                      Cheia no Pantanal    
                                        Um fenômeno natural, até quando?
                                        Postado em 09 de Outubro de 2014.
Muito antes dos pesquisadores anunciarem a cheia extraordinária deste ano, ribeirinhos do Pantanal já sofriam com seu impacto.
Muito antes dos pesquisadores anunciarem a cheia extraordinária deste ano, ribeirinhos do Pantanal já sofriam com seu impacto, pois em algumas regiões a inundação dos rios foi maior que a de 2011, ano em que os prejuízos socioeconômicos para a população pantaneira e fazendeiros foram significativos.
Em Cáceres, no Mato Grosso, as águas alcançaram níveis superiores ao dos últimos três anos, assim como na confluência dos rios Paraguai e São Lourenço, no Mato Grosso do Sul, onde em maio, foi registrada a marca de 6,30 metros, sete centímetros a mais que o pico da última grande cheia na região, que foi de 6,23.
Através da análise de dados sobre a situação dos rios nas cabeceiras, das chuvas que caiam na região norte do Pantanal e também das situações relatadas por moradores das comunidades que vivem na região, técnicos da ONG Ecoa já previam que ocorreria uma inundação anormal.
A partir deste diagnóstico, em fevereiro foi iniciado um trabalho preventivo junto das comunidades, com o objetivo de minimizar os efeitos de uma cheia atípica. Porém, não foi suficiente para a proteção dos grupos de maneira integral, pois os sistemas de alertas para estes eventos climáticos extremos ainda são insuficientes.
De acordo com Edna Da Silva Amorim, moradora da Barra do São Lourenço, comunidade que foi assolada com a cheia de 2011, muitos moradores, apesar de as águas já terem baixado, ainda estão sofrendo com os impactos da cheia deste ano.
“Quando veio a cheia eu ainda ‘tava’ construindo minha casa, nem tinha terminado e veio a cheia e a gente teve que ficar aqui no ‘tablado’ e os outros foram lá para o aterro, agora eu  estou reconstruindo minha casa em uma região mais alta né?,” disse a moradora com receio de que sua casa seja invadida pelas águas novamente.
Os locais mais altos da comunidade são as melhores alternativas durante o período de enchente, o principal deles é o aterro do Socorro, um direito que só foi conquistado após 20 anos da expulsão da comunidade para a criação de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN).
André Luiz Siqueira, Diretor Presidente da Ecoa, explica que o direito da comunidade de uso dessa região, foi graças a um processo para a identificação de terra da União em propriedade antes considerada privada, mas que através de um georreferenciamento de precisão, feito pela Secretaria do Patrimônio da União (SPU), a pedido do Ministério Público Federal (MPF), concluiu-se que área em questão se trata de “ilha em faixa de fronteira”, o que, segundo a Constituição, é terra pública. 
“Com este reconhecimento a Associação da Comunidade recebeu um Termo de Autorização de Uso Sustentável Coletivo (TAUS Coletivo), que permite que os ribeirinhos usem – de modo consciente e de acordo com a legislação ambiental – os recursos naturais da área, conhecida pelos moradores como Aterro do Socorro, além é claro de poderem se se abrigar no local durante o período de cheia, esta é uma das maiores conquistas para aquelas populações,” ressalta André.
                                 Vazão lenta
Muito antes dos pesquisadores anunciarem a cheia extraordinária deste ano, ribeirinhos do Pantanal já sofriam com seu impacto
Para os pesquisadores e também para os ribeirinhos, está foi uma cheia muito diferente das que foram registradas em anos anteriores, além do alto nível dos rios em algumas regiões, a inundação da planície este ano surpreendeu também pelo tempo de duração.
De acordo com Vanessa Spacki, uma das pesquisadoras envolvidas no “Plano de Prevenção, Mitigação e Adaptação a Impactos de Eventos Climáticos Extremos no Pantanal”, está cheia chegou com atraso e teve a duração maior, ou seja, uma enchente lenta e longa.
“Durante a execução do projeto (Mapeamento de eventos climáticos extremos no Pantanal, análise de seus efeitos sobre populações vulneráveis, capacitação local e elaboração de propostas mitigatórias) pela Ecoa, realizamos um levantamento sobre as cheias dos últimos seis anos e em nenhuma região houve uma cheia desta proporção,” explica a pesquisadora, Mestre em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável.
O Pantanal possui um sistema hidrológico complexo – regido por ciclos de enchentes, cheias vazantes e secas –, mas esta complexidade se agrava atualmente. De acordo com o registro dos níveis do Rio Paraguai e seus tributários, a planície continua inundada em um período em que a vazão já deveria ter ocorrido.
Segundo os dados do Serviço de Sinalização Náutica do Oeste, que acompanha o nível dos rios Paraguai e Cuiabá, no início de setembro a régua de Bela Vista do Norte – localizada no extremo norte de Mato Grosso do Sul, quase na divisa com Mato Grosso – registrou 4,86 metros contra 4,04 metros do mesmo período no ano de 2011.
Se analisado os dados do nível do pico da cheia do rio Paraguai na região – que ocorreu no dia 13 de junho –, quando foi registrado o nível de 6,30 metros e no dia 01 de setembro a altura da régua marcava 4,86, houve uma vazão de apenas 1,44 metros em 111 dias.
A lenta vazão se manifesta mais claramente na sub-região pantaneira do Nabileque que além do rio Paraguai, absorve também a água dos afluentes: Miranda, Aquidauana, Taquari, Negro e Abobral.
Porto Murtinho, distante 444 quilômetros de Campo Grande (MS), é a última cidade do Pantanal na porção brasileira e lá se encontra a última régua do Serviço de Sinalização Náutica do Oeste, onde o pico foi de 7,16 metros em 19 de junho no dia 24 de setembro, registrou a altura de 6,73 metros; uma vazão de apenas 0,43 centímetros.
Esta situação anormal preocupa moradores e pesquisadores, pois caso a água acumulada na planície se mantenha até o início do período de chuvas, que deve ocorrer a partir do próximo mês, esta situação será ainda mais alarmante.

quinta-feira, outubro 09, 2014

Nascente do rio Uberabinha tem água graças à área de preservação
7 de outubro de 2014 19:34
Segundo Antonius Van Ass., o trabalho de preservação da cabeceira do Uberabinha existe há muito tempo (Foto: Cleiton Borges.
Diferentemente do que aconteceu na nascente principal do rio São Francisco, na Serra da Canastra, que secou, a do rio Uberabinha, que fica em uma fazenda em Uberaba, a 75 km de Uberlândia, tem água e está com uma quantidade compatível com a distribuição de chuvas deste ano, segundo o diretor do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Cláudio di Mauro. Isso se deve ao aumento da Área de Preservação Permanente (APP) na propriedade rural, resultado de um acordo feito há nove anos entre o proprietário da fazenda, Antonius Van Ass, e o Ministério Público Estadual (MPE).

Em relação à quantidade de água da nascente, Di Mauro disse que a quantidade é baixa, está menor do que o ano passado, devido ao período de seca e à falta de cobertura vegetal. O especialista lembrou que, neste ano, a nascente está sendo abastecida apenas pelo lençol freático. “Muitas áreas não têm cobertura vegetal no entorno, por isso, não há infiltração e, consequentemente, não se tem tanta disponibilidade de água.”
Segundo Van Ass, o trabalho de preservação da cabeceira do Uberabinha existe há muito tempo e, há nove anos, um acordo com Ministério Público Estadual ampliou a área de preservação em 200%. “Eu plantava em 95% de toda área e hoje estou com 30% de área de preservação que é de 400 hectares, conforme o acordo”, afirmou.
De acordo com Cláudio di Mauro, o trabalho feito nessa propriedade deveria ser feito na nascente como um todo. “O exemplo do que está sendo feito aqui precisa ser expandido para outras áreas no entorno, nascentes dos afluentes e médio curso do rio Uberabinha, em que os proprietários não têm a mesma preocupação”, disse.
Covoais estão secos e vegetação ressecada
Embora a nascente do rio Uberabinha no município de Uberaba, que fica a 75 km de Uberlândia, esteja em uma situação razoável, os covoais estão secos. Os covoais são pequenos montes de terra na superfície do solo, uma espécie de caixa d’água que acondicionam a água e alimentam os lençóis freáticos dos rios Uberabinha e Claro, de acordo com o diretor do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Cláudio di Mauro.
A situação dos covoais, segundo Di Mauro, também se deve ao período de seca e à falta de cobertura vegetal. Em visita à região da nascente, o diretor mostrou alguns locais em que os covoais estavam secos e a vegetação ressecada. “A água da chuva é armazenada no solo subterrâneo e no solo de subsuperfície e estas áreas de armazenamento alimentam o lençol freático dos rios. Por esse motivo, todas as áreas de covoais precisam ser preservadas.” Di Mauro lembrou que algumas áreas de covoais são destruídas pelos agricultores para fazer plantio.
Extração de argila está suspensa há dois anos
Na fazenda do produtor rural Antonius Van Ass, onde fica a nascente do rio Uberabinha, a extração de argila refratária em uma área de covoais está suspensa há cerca de dois anos devido a um processo na justiça movido pelo produtor contra a Indústria Brasileira de Artigos Refratários (Ibar) pelo encerramento da atividade na propriedade.
Segundo o diretor do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Cláudio di Mauro, para a argila ser extraída, é preciso remover parte da cobertura do solo e drenar a água. Ele disse que o problema ocorre na extração porque a drenagem da água abaixa o nível do lençol freático do rio. “Como agora a extração foi parada não está afetando a nascente dos rios Uberabinha e rio Claro”, afirmou.
Desde 2008, programa cercou 2 mil ha de APPs
A proteção e recuperação das nascentes do rio Uberabinha e ribeirão Bom Jardim têm sido uma das preocupações do Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae) que criou em 2008 o programa Buritis. De acordo com o órgão, desde a criação, o programa cercou mais de 2 mil hectares de APPs e fez o plantio de 140 mil mudas nativas do Cerrado, atendendo a um total de 120 pequenas e médias propriedades rurais.
Segundo o gerente ambiental do Dmae, Leocádio Pereira, os produtores rurais aderem de forma voluntária ao programa. “Entre as ações de proteção estão o cercamento de nascentes, a revegetação de áreas degradadas pela agricultura e pecuária e a construção de curvas de nível, terraços e barraginhas.”
Pereira disse ainda que está em andamento uma parceria com a prefeitura de Uberaba para a continuação das ações do programa junto às propriedades daquele município. O secretário de Meio Ambiente de Uberaba, Ricardo Lima, disse que a parceria vai somar esforços para ampliar as áreas de preservação e reduzir os problemas com a falta de água em períodos de estiagem prolongada.
Confira uma galeria de fotos da nascente do rio Uberabinha: