sexta-feira, setembro 26, 2014

Além de relembrar a infância, uma jabuticabeira pode indicar, nos frutos, a influência do clima na produção

Estagiária Gabriela Troian, sob a orientação de J.G. Alves
Basta uma única jabuticabeira e pronto: uma via para vários sentimentos está aberta. Essa árvore, geralmente cheia de “bolinhas escuras”, remete aos tempos da infância, das brincadeiras e do contato próximo à natureza, quando comer a fruta direto do pé era quase uma regra. Mas além do passado, uma jabuticabeira também é um indicativo climático futuro: a floração e a frutificação estão intimamente associadas ao regime das chuvas, que pode adiantar a produção e determinar se ela será farta (ou não). Menos água, frutas pequenas e em menor quantidade.
                                         Dona Maria de Souza: rega para florir
A aposentada Maria Floripes de Souza, 76 anos, possui três jabuticabeiras em sua chácara na cidade de Monte Mor (SP) e já sente os reflexos da falta de chuvas, que ainda não aconteceram no volume esperado. Para que os pés iniciem logo a florada, a aposentada rega-os diariamente. “Quando está muito seco tem que colocar água. Este ano começou a florescer no final de agosto, ficou a coisa mais linda! Depois de vinte dias, dá frutas e as árvores ficam lotadas de bichinhos”, observa.
“A jabuticaba é 100% um reflexo da natureza. A forma como o clima está se comportando refletirá no jeito em que a árvore irá se comportar”, afirma a agrônoma Susanna Von Büllow Uilson, que possui em sua fazenda (a Santa Maria, no distrito de Joaquim Egídio, em Campinas, no interior de São Paulo) mais de 115 jabuticabeiras das espécies ponhema, jabará e paulista
                                     Jabuticabeiras da Fazenda Santa Maria
Diferentemente das jabuticabeiras de Maria de Souza, as de Susanna Uilson iniciaram a florada tardiamente, somente no mês de setembro, apesar de as árvores possuírem as mesmas características. E são dois os fatores que motivaram esta diferença: o primeiro está na altitude elevada, que reflete no ciclo; e o segundo, a falta de chuvas regulares. A seca atípica também refletiu numa florada menos intensa que em anos anteriores.
Segundo Suzanna Uilson, a falta de chuva é muito mais prejudicial à produção do que a falta de luz, por exemplo. “Esse ano a florada foi muito fraca, e é ela quem determina a produtividade. Por conta disso, já posso prever que a colheita não será tão promissora”, aponta a agrônoma.
                                                                Novos indivíduos
                                    Plantio por sementes: 15 anos para crescer
Susanna Uilson explica que há diversas formas se plantar uma muda de jabuticaba. As duas mais comuns são por borbulhias e por sementes. A primeira garante uma produtividade mais rápida, pois consiste em “clonar” outra árvore que já apresenta uma boa produção. De acordo com a agrônoma, em três a quatros anos a árvore começa a produzir. “Geneticamente falando ela (a árvore) é um clone da ‘mãe’. A jabuticabeira vai viver muitos anos, mas a produtividade dela será mais curta, pois ela já ‘nasce’ com a idade da árvore clonada”, explica Uilson.
Já pelo método de sementes, utilizado pela agrônoma em sua fazenda, a produtividade é mais lenta, pois um novo indivíduo está sendo formado. Para que a planta comece a produzir frutos, são necessários cerca de 15 anos desde o plantio.
Além disso, as jabuticabeiras são dependentes da polinização das abelhas para que novas árvores possam se desenvolver. “Logo após a florada, abelhas europeias (Apis mellifera) entram na flor através da parte feminina, colhem o mel e, no corpo delas, fica ‘grudado’ o pólen. A cada flor que as abelhas entram, um novo pé de jabuticaba irá nascer”, conta a agrônoma.
                                                                      Fruto rico
                                            Susanna Uilson: produção variada
A relação de uma jabuticabeira com a água não se restringe somente à produtividade. O tamanho dos frutos também está relacionado à abundância do recurso hídrico. Após anos de experiência com as árvores, Uilson conta que quanto mais abundantes são as chuvas maiores serão as jabuticabas. E, consequentemente, a falta ocasiona em frutos menores e mais doces, pela concentração de sólidos solúveis. “Épocas de grande seca o fruto é muito menor, cerca de 30%”, indica.
Quando o fruto começa a aparecer, de setembro a novembro, é inevitável não se lembrar das jabuticabas comidas no pé, nos licores caseiros e doces. Como diria Susanna Uilson, “jabuticabeira é coisa de avó”. Mas além do gosto de infância, a jabuticaba tem propriedades que fazem dela um alimento funcional. Ou seja, um alimento que traz benefícios ao organismo.
A partir disso, a agrônoma contribui com instituições de pesquisa, cedendo frutas e conhecimento. “Recentemente uma pesquisa da Unicamp apontou que a jabuticaba possui altos teores de antocianina, combatendo o câncer de próstata e o retardamento celular. Também auxílio a Embrapa para estudos futuros”, aponta a Uilson.
                                                                  Usos e visitas
Primeiras frutas começam a amadurecer
O primeiro deles foi a produção de um licor de jabuticaba totalmente sustentável. Ou seja, todos os resíduos da fabricação são reaproveitados, utilizados na compostagem, de forma a suprir as plantas com seus próprios nutrientes.
Além disso, Uilson abriu as porteiras da fazenda para o “Pague e Colha“, que acontece uma vez por ano, a cada produção. Durante cerca de 15 dias, as pessoas podem visitar os jabuticabais e comer a quantidade de frutos que quiser. Cada visitante paga um valor de entrada e pode ficar quanto tempo quiser. Caso deseje, ainda é possível, ao final do passeio, comprar jabuticabas. De acordo com a agrônoma, o preço varia de acordo com o tamanho das jabuticabas e só pode ser determinado quando os primeiros frutos começam a surgir.

Para agendar um horário de passeio no “Pague e Colha” basta enviar um e-mail para contato@fsantamaria.com.br ou reservas@restaurantedacapela.com.br.